Guerra na Ucrânia: diálogo é a única solução possível, reitera o Papa

Em entrevista concedida em 11 de agosto ao canal português da CNN, Francisco falou de inúmeros temas pessoais, eclesiais e internacionais. “Somente os animais não dialogam”, afirmou.

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

“O Papa vai. Vai Francisco ou João XXIV, mas o Papa vai (risos)”

Assim, o Pontífice respondeu a uma das perguntas que lhe foram feitas pelo canal português da CNN, que foi ao ar na noite desta segunda-feira.

A resposta dizia respeito à sua participação na próxima Jornada Mundial da Juventude, marcada para 2023 justamente em Lisboa.

Além do tema da juventude, Francisco respondeu a inúmeras questões seja de caráter pessoal, seja sobre questões de geopolítica internacional, como a guerra na Ucrânia. O cenário mudou desde então, pois a entrevista foi concedida no dia 11 de agosto.

JMJ e a “genialidade” de João Paulo II

Sobre a JMJ, o Papa ressaltou a “genialidade” de São João Paulo II ao ser o idealizador das Jornadas e a importância do diálogo inter-geracional. Outra pergunta foi sobre Fátima e a espiritualidade mariana de Francisco. “Eu sou mariano, gosto muito da Virgem, mas em Fátima senti outra coisa. Fátima deixou-me mudo. Fátima é a Virgem do silêncio, para mim. (…) E para mim, Portugal é Fátima. Que não se zanguem os portugueses, mas é a minha experiência.”

Rotina de oração

O Papa contou ainda sobre sua rotina diária de trabalho, que acorda às 4h da manhã, deita às 9h e vai dormir às 10h da noite. E revelou sua rotina de oração: “Eu não alterei a maneira de rezar. Posso ter aprofundado, não sei. Mas eu rezo o terço, faço-o como fazia em miúdo. Rezo com a Bíblia e medito. Rezo o ofício litúrgico todos os dias. Ou seja, de diversas formas. Coloco-me diante de Deus e, às vezes, distraio-me, mas Ele não se distrai. E isso consola-me”.

Seu bom humor, seu compositor preferido e suas férias também integraram a entrevista.

“Monstruosidade” dos abusos

Quanto a temas eclesiásticos, o Papa foi interrogado sobre abusos na Igreja, definindo-os “monstruosos” e reforçou a política de tolerância zero. Quando questionado se não seria consequência do celibato, respondeu:

“Não é o celibato. O abuso é uma coisa destrutiva, humanamente diabólica. Nas famílias não há celibato e também ocorre. Portanto, é simplesmente a monstruosidade de um homem ou de uma mulher da igreja, que está doente em termos psicológicos ou é malévolo, e usa a sua posição para sua satisfação pessoal. É diabólico.”

A Igreja e as mulheres

O Pontífice falou ainda sobre liturgia e a abertura da Igreja às mulheres. Quanto à recente nomeação de três delas para o Dicastério para os Bispos, respondeu: 

“Os relatórios mais maduros que eu recebia para conferir a ordenação como sacerdotes aos seminaristas eram elaborados por mulheres dos bairros onde eles iam trabalhar na paróquia. E, além disso, a mulher está encarregada de conduzir a maternalidade da Igreja, portanto, para eleger bispos é bom que haja mulheres que pensem como têm de ser os bispos, ou seja, a entrada das mulheres não é uma moda feminista, é um ato de justiça que, culturalmente, tinha sido posto de lado.

Guerra e diálogo

Francisco também foi questionado sobre o tema da sinodalidade e suas encíclicas “Laudato si’” e “Fratelli tutti”.  Quanto ao cenário internacional, reforçou a importância do diálogo, sobretudo em casos de crises como na Ucrânia e seu desejo de visitar o país, onde a situação “é deveras trágica”.

“Acredito sempre que, se dialogarmos, conseguimos avançar. Sabe quem não sabe dialogar? Os animais. São puro instinto. Se se deixar levar  por instinto puro… Por outro lado, o diálogo é deixar de lado o instinto e ouvir. O diálogo é difícil.”

A entrevista se encerra com bom humor: – Como é que lhe posso agradecer este momento?

Reze por mim. Reze por mim, mas a meu favor, não contra mim (risos).

Fonte: Vatican News

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