Este talvez venha ser o texto introdutório de outros sobre essa relação entre a iniciação cristã e a Psicopedagogia. O estudo desse tema se insere dentro da inquietação eclesial para encontrar um caminho mais eficiente para a catequese. De início vem a consciência de que catequese é ensino, é transmissão das verdades da fé, o que requer melhor compreensão da complexidade que há entre o conteúdo ofertado e a pessoa a quem é oferecido. É nessa relação que entra a Psicopedagogia como compreensão do processo de aprendizagem na relação entre catequista e catequizando.
A catequese, ao longo da história, passou por várias especificações. Na antiguidade cristã a catequese se dava pelo querigma, anúncio do mistério redentor de Jesus, centrado na paixão, morte e ressurreição do Senhor. Os Apóstolos e os Padres Apostólicos pregavam a partir do patrimônio judeu, o que favorecia seus ouvintes logo a associarem Jesus com as promessas feitas ao antigo Israel. Essa catequese ligava três elementos: anúncio, fração do pão, e espera da vindo do Senhor. Estava inserida dentro de uma vida religiosa unificadora, isto quer dizer, dificilmente havia cisão entre o que se professava e o que se vivia, a iniciação cristão é um único corpo. É dessa unificação celebrativa de fé e vida que aquela catequese gerou inúmeros mártires para Igreja.
Na antiguidade o meio de expansão cristã é predominantemente entre os judeus e os prosélitos, pessoas próximas ao judaísmo. Com a expansão pelo império romano a comunidade dos discípulo se encontrou com a sabedoria grega, antes interpretada pelo judaísmo, mas agora sem essa mediação o mundo grego questiona diretamente o cristianismo. Esse é o período da Patrística. A Igreja começa a tomar consciência da necessidade do reconhecimento de verdades fixas na fé. Assim, a catequese vai adquirindo ainda mais conteúdo e rito. É um período onde ainda se mesclam o estilo apostólico e o medieval que virá. Os sacramentos seguem unificados, tendo uma forte relevância o caráter penitencial na vida do cristão.
Com o fim do império do ocidente em 476 a Igreja se fortalece como instituição, cresce a condição de cristandade iniciada ainda no período imperial. Ser cristão é ser cidadão. A catequese está centrada na educação que os pais transmitem e vivem. As ideias de céu e inferno povoam o imaginário das pessoas. Os sacramentos da iniciação são desvinculados uns dos outros: Batismo, Eucaristia e Crisma. Com a reforma protestante o catolicismo reafirma as verdades fixas da fé. A catequese se converte de vivencial a doutrinação. Os conteúdos da fé devem ser conhecidos e aceitos pela razão. As pessoas que não têm acesso a esses conteúdos enveredam pelas lendas e contos da vida dos santos e mártires.
Com a modernidade a catequese segue o ritmo da doutrinação, mas com maior acento do ofício exercido pelo ministro da Igreja, o sacerdote. A família ainda é lugar da primeira catequese, mas o que irá contar é o exame sistemático para a recepção dos sacramentos. Esse modelo predominou até o Concílio Vaticano II, onde nasceu a possibilidade de uma atualização da linguagem e a maior participação dos fiéis no ofício da catequese. Desde a década de sessenta do século XX a Igreja vem tentando encontrar os meios mais eficientes para transmitir o seu valioso tesouro da fé.
A CNBB nos diz que “a Iniciação à Vida Cristã é uma urgência que precisa ser assumida com decisão, coragem e criatividade” (CNBB, 107, n. 69), é na busca de assumir tal desafio que do número 198 ao 226 a Igreja mescla os sujeitos da IVC com os agentes mediadores desse processo. Um dos elementos visivelmente reconhecido pela Conferência é a abordagem adequada a cada idade, a cada grupo de pessoas e a capacitação dos agentes para tal missão. Diante disto, a Psicopedagogia se insere como um recurso auxiliar no processo de IVC.
A Psicopedagogia colabora com a IVC dando aos catequistas o instrumental das condições psico-afetivas, sociais e cognitivas dentro do processor de iniciação cristã. É uma maneira de levar em consideração as capacidades que trazem os catequizandos, sejam crianças, adolescentes, jovens, adultos ou idosos e também com pessoas com deficiência.
A Psicopedagogia, por trabalhar com o processo de aprendizagem, ajuda o catequista a acompanhar mais apropriadamente o processo de inserção na comunidade, levando em consideração que as condições psico-afetivas, sociais e cognitivas são essenciais para uma maior eficácia de qualquer processo de aprendizagem. Além dessas condições, a Psicopedagogia esclarece que o processo de aprendizagem requer afetividade. À medida que o catequizando se sente afetado pela proposta de vida cristã, ele a assumirá para si. Mas isso é melhor enraizado quando se fala uma linguagem que contemple o catequizando, daí a importância do conhecimento do processo de desenvolvimento da pessoa, com o fim de se propor, por meio de dinâmicas e discurso, aquilo que afetará o ânimo do catequizando, despertando nele uma atração pela fé em comunidade.
Os tempos atuais estão repletos de apelos afetivo-emocionais, no entanto, a catequese não deveria entrar nesse jogo comercial, mas recorrer ao método psicopedagógico para formar pessoas não a partir emocional e imediato, mas discípulos e discípulas que fazem um processo de amadurecimento pessoal acompanhado pela fé.
Portanto, para uma maior eficiência da catequese catecumenal, como Iniciação à Vida Cristã, a Psicopedagogia dá assistência para uma catequese que respeite as condições de desenvolvimento da pessoa, ou seja, realiza uma catequese segundo as idades.
Pe. Abimael F. Nascimento, MSC
Pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Sagrado Coração
Mestre em Teologia
Especialista em Psicopedagogia
Especialista em Filosofia