Os membros da missão que ganha apoio dos bispos italianos
A missão ‘Mare Jonio’ no Mediterrâneo vai ganhar cobertura do inviado do Vatican News, que partiu a bordo da iniciativa organizada em conjunto com a Conferência Episcopal Italiana.
Joseph Tulloch – Trapani
Trapani é o ponto de partida da missão Sar (search and rescue – busca e resgate) lançada na última sexta-feira, 23 de agosto, pela Mediterranea Saving Humans, uma organização humanitária fundada por Luca Casarini que vem resgatando pessoas que tentam fazer a perigosa travessia marítima desde 2018. Esta é a primeira missão organizada em conjunto com a Fundação Migrantes da Conferência Episcopal Italiana.
Graças ao apoio dos bispos, o Mare Jonio – um rebocador reutilizado para as operações Sar da Mediterranea – será acompanhado por uma embarcação de apoio que transporta outros voluntários e pessoal médico, bem como um mediador cultural e um pequeno grupo de jornalistas. “É um barco de apoio preparado em conjunto com a Migrantes”, explica Pe. Mattia Ferrari, ”com dois diretores diocesanos de Fano e Caltanissetta a bordo. Essa é mais uma parte de uma colaboração com a Igreja que vem ocorrendo há anos e é composta, acima de tudo, por muitas relações e em vários níveis, desde paróquias e dioceses até a Igreja universal”.
Uma colaboração, explica o capelão da Mediterranea, que “vê a Igreja e as pessoas de boa vontade unidas, vindas de muitos mundos sociais e origens culturais diferentes, unidas em um amor visceral comum, como indica o Evangelho, por nossos irmãos e irmãs migrantes”. É um percurso que se faz em conjunto, acrescenta Ferrari, “também por meio do resgate no mar e do salvamento de pessoas de naufrágios, de rejeições damos corpo à fraternidade, aquela fraternidade universal que não pode permanecer um valor abstrato, mas deve se tornar carne por meio de nossos corpos, nossas vidas, nossas relações”. Ir para o mar, portanto, também significa “quebrar esse muro de cinismo e indiferença”, a fim de “despertar as consciências, porque a sociedade está muito distraída e não podemos continuar a tolerar esse massacre contínuo de naufrágios e rejeições”. Devemos romper com tudo isso, e não sermos cúmplices, é o apelo de Padre Mattia.
Missão em andamento
A mídia do Vaticano está a bordo do navio Migrantes que, junto com o Mare Jonio, zarpou de Trapani. Ao deixar as águas italianas, o Mediterranea fez dois anúncios importantes. Primeiro, enfatizou que, em vista dos crescentes maus-tratos aos migrantes na Tunísia, não mais cooperaria com a guarda costeira tunisiana em operações de busca e resgate. Uma posição já tomada com relação à Líbia, pelo mesmo motivo. Em segundo lugar, a Mediterranea, com referência às diretrizes do governo italiano, que muitas vezes ordenou o desembarque de migrantes em portos distantes da área de resgate, anunciou que não aceitará mais ordens de desembarque em portos fora da Sicília.
Também a bordo do navio está Ibrahima Lo, um mediador cultural do Senegal, que chegou à Itália pela rota da Líbia, autor de dois livros que relatam a tragédia dos migrantes e que, junto com Pe. Mattia Ferrari e Luca Casarini, encontrou-se com o Papa na Casa Santa Marta em 2 de julho. “Estou a bordo porque quando eu tinha 16 anos fui resgatado no mar, estava em um bote com outras 120 pessoas. Agora estou a bordo de um navio que vai salvar vidas, que retorna ao local onde fui salvo, e farei o mesmo com meus irmãos e irmãs”.
Ibrahima Lo con il bispo de Trapani, dom Pietro Maria Fragnelli
Unidos por um “amor visceral”
Embora esse seja o primeiro empreendimento oficial compartilhado, a colaboração entre a Igreja e a Mediterranea vem de vários anos. O Papa Francisco tem se encontrado com frequência com membros da organização, expressando publicamente seu apoio. Em 2019, ele colocou um crucifixo adornado com um colete salva-vidas, doado a ele pela própria Mediterranea, no Palácio Apostólico do Vaticano.
Muitos bispos italianos também expressaram seu apoio à organização, que trabalha em estreita colaboração com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Antes da partida, o bispo de Trapani, Pietro Maria Fragnelli, visitou o navio de apoio para oferecer sua bênção e dar à tripulação um ícone feito especialmente para ele. “Esta”, explicou ele, “é uma missão de amor que vem a nós diretamente do Evangelho”. A missão de hoje, de acordo com o prelado, indica uma colaboração que deve “crescer cada vez mais entre as forças civis e militares e, quem sabe, talvez nossa cultura também supere esse tipo de ideia de que o Mediterrâneo é uma barreira e não uma ponte”.
As Nações Unidas estimam que, somente em 2023, mais de 212 mil migrantes e refugiados tentaram atravessar o Mediterrâneo central a partir da Argélia, Líbia e Tunísia. Aproximadamente 3 mil perderam suas vidas no mar, um número certamente muito distante do real.
Fonte: Vatican News.