Justiça social e Justiça ecológica

Foto: Vatican News

O ser humano não é simplesmente um ente já pronto, mas procura con­quistar-se e sua primeira aquisição se dá em sua esfera básica de vida: ele é um ser vivo e enquanto tal precisa reproduzir-se. Sendo a história a instância em que o ser humano luta por conquistar sua humanidade, ela se revela como o campo da luta pela reprodução de sua vida. Isto ocorre através da conquista das condições materiais que efetivam uma vida digna do ser humano en­quanto ser livre. A consequência disto é que a razão de ser da atividade eco­nômica não pode limitar-se simplesmente à busca da produção, mas tem que ter como alvo a qualidade da vida humana e da natureza.

Por ser o ser humano um ser de natureza e um ser de relações sociais, andam juntas in­justiça social e injustiça ecológica. A atual configuração da vida so­cial, uma sociedade industrial estruturada em função da produção, levou a uma gigantesca explora­ção de seres humanos e à sistemática destruição da natureza tida como sem valor em si mesma. A práxis humana se revela aqui interpelada pela exigência de superação de toda ordem social radicada na exploração e na injustiça social e ecológica. Isto implica uma alternativa civilizatória que se concretize na luta contra a desigualdade na partilha da riqueza e na defesa da integridade da natureza.

Esta conquista do ser humano acontece através de um processo de interação: é na comunhão com o outro que o ser humano se constitui enquanto pessoa. É ele mesmo o responsável pela configura­ção de sua vida e isto implica a configuração de um mundo que torne a liberdade solidária possível. O ser humano só se conquista  pela supressão de qualquer tipo de negação da dignidade, de si mesmo e dos seres naturais. Positivamente, ele se efeti­va como reconhecimento recíproco das liberdades  de  todos os humanos.  Desta forma se manifesta que a autoconstrução do ser humano implica a configura­ção de uma sociabilidade fundada na solidariedade universal. Isto exige a gestação de instituições econômicas, políticas, sociais e culturais através das quais se possa, antese de tudo, eliminar a pobreza absoluta no mundo e efetivar um desenvolvimento ecossocial.

Se o que está em jogo na história humana é a efetivação do ser humano enquanto ser aberto à totalidade do ser, então, este processo implica não só a construção da comunhão intersubjetiva pela eliminação da opressão nos diferentes níveis de sua vida, mas também a comu­nhão com o processo abrangente do mundo, a construção da integração universal, o que, por sua vez, tem uma exigência fundamental: que o ser humano considere a natureza não simplesmente como meio necessário à sua reprodução orgânica, mas também como algo que possui valor em si mesmo.  Disto emerge a obrigação de zelar pela integridade da natureza, pelo respeito aos direitos dos seres naturais e pelo equilíbrio do ecossistema. Desta forma, a práxis humana só poderá ser radical se ela implicar conjuntamente a construção da jus­tiça social e da justiça ecológica.

Manfredo Oliveira, Universidade Federal do Ceará

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