Neste segundo domingo da quaresma subimos juntos com Jesus para fazermos a experiência da transfiguração e assim também descermos com Ele para restaurarmos as realidades com as quais somos desfiados a viver os valores do reinado de Deus.
O relato da transfiguração de Jesus é uma apresentação antecipada da realidade gloriosa da ressurreição do Senhor na qual os discípulos são preparados pedagogicamente para enfrentarem o drama da paixão sem, entretanto correrem o risco de esmorecerem pelo caminho, mas terem presente em seus corações este momento de revelação gloriosa de Cristo!
A narrativa da transfiguração acontece no “sétimo dia”, portanto, seis dias depois (v.1) do primeiro anúncio da paixão. Num lugar retirado, numa alta montanha – representação da experiência de maior intimidade, de maior sintonia com Deus por meio da elevação; tomando consigo três de seus discípulos (e não diante de todos os que o seguiam) a figura de Jesus mudou: rosto brilhante como o Sol e vestes brancas como a luz. Além disso, o fato contou com a presença de Moisés e Elias, personagens emblemáticos do contexto bíblico representando todo o ensinamento da Lei e toda a força da profecia.
Outros elementos também aparecem: Pedro, que chama Jesus de “Senhor” (Identificação do Ressuscitado) em nome dos discípulos sugere a construção de tendas para permanecer nesta experiência prazerosa e agradável. Contudo, a manifestação da presença divina aqui representada pela voz saída da nuvem que a todos cobriu confere uma tarefa importante para as testemunhas desse fato: o reconhecimento de quem é Jesus (“Este é o meu filho amado, nele está o meu agrado” – Identidade) e a nossa responsabilidade diante d’Ele: “…escutai–o! – Missão”.
O medo que se apoderou de todos – os discípulos com o rosto em terra e assustados (v. 6) é anulado por meio das atitudes de Jesus que aproxima-se, toca e lhes fala: “Levantai-vos, não tenham medo” (v.7). O Senhor também lhes recomenda reservar o conteúdo dessa experiência apenas no momento oportuno, enquanto descem do monte.
Reunidos como família de Deus somos convidados a sair das nossas comodidades e numa atitude de peregrinos, romeiros, povo itinerante nos colocarmos a caminho confiantes em Deus e tomando posse de sua promessa, assim como fez Abraão (Gn 12,1-4). Conscientes desta presença divina nós suplicamos essa graça sobre nós (Sl 32/33) a fim de correspondermos dignamente a nossa vocação à santidade por meio de sua eterna bondade (2Tm1,8-10).
Neste tempo quaresmal o Senhor nos convoca a romper com todas as estruturas que desfiguram o seu rosto por meio da opressão dos pequenos e da constante destruição da natureza e que portanto impedem a manifestação gloriosa do filho do Homem. Somos convidados a subir com o Senhor e, uma vez transfigurados pela sua presença redentora, vencermos os nossos medos para então ajudarmos na construção de um mundo melhor.
Pe. Fernando Antonio Carvalho Costa