Jamais podemos prescindir a promessa de Jesus, a de permanecer com sua gente todos os dias até o fim dos tempos, desejando revelar-se vivo e vitorioso, mesmo diante do pecado e da morte, dizendo que irá infundir em nós um ânimo novo, pelo seu Espírito, ao neutralizar as dores, angústias, cruzes e perseguições, no anúncio da esperança e da alegria, na sua cruz redentora, até que ele venha (cf. Mt 28, 29)
Neste mundo conturbado em que vivemos, quando o Ter nos é apresentado como algo supremo e absoluto, em detrimento do Ser, que é colocado em segundo plano, o que devemos fazer? É preciso que tenhamos um olhar de sabedoria, profundo e, ao mesmo tempo paciente, para com o mundo em que a pessoa humana está inserida. José Saramago, ao ser acusado de pessimista, respondeu: “Eu não sou pessimista. O mundo é que é péssimo”.
Para todos aqueles que desejam ardentemente viver a sua fé, no seguimento de Jesus de Nazaré, urge pensar e refletir sobre sua própria vocação, no sentido mais amplo da antropologia cristã: ser pessoas otimistas, num mundo extremamente marcado pelo pessimismo, com o compromisso de edificá-lo, através da fé que professam, numa dinâmica, sempre projetada para o futuro, num desejo de ajudar a perceber o momento presente, nos sinais de esperança e otimismo.
Francisco de Assis, no seu otimismo e no seu relacionamento íntimo com Deus e com suas criaturas, rendia graças ao bom Deus deste modo: “Tu és o santo Senhor e Deus único, que operas maravilhas. Tu és forte; tu és grande; tu és o altíssimo. Tu és o rei onipotente, santo pai, rei do céu e da terra; tu és o trino e o uno, Senhor e Deus, o bem universal; tu és o bem, todo bem, o sumo bem, Senhor e Deus, vivo e verdadeiro. Tu és a delícia do amor; tu és a sabedoria; tu és a humildade; tu és a paciência; tu és a segurança; tu és o descanso; tu és a alegria e o júbilo; tu és a justiça e a temperança; tu és a plenitude da riqueza; tu és a beleza; tu és a mansidão; tu és o protetor; tu és o guarda e o defensor; tu és a fortaleza; tu és o alívio; tu és nossa esperança; tu és nossa fé. Tu és nossa eterna vida, ó grande e maravilhoso Deus, Senhor onipotente, misericordioso redentor”.
Olhando para a vida desse homem marcada profundamente pela graça de Deus, supliquemos para que a nossa vida aqui na terra seja uma bela caminhada, que podemos chamar de êxodo rumo à eternidade. Por causa da eternidade, que já experimentamos aqui, de algum modo, Deus exige algo de cada batizado, numa palavra, a ser sinal de contradição. Como tão bem disse Dom Aloísio Lorscheider na sua Carta Pastoral de oito de dezembro de 1989: “O Reino de Deus não se constrói sem sacrifício, sem renúncia a si mesmo, sem aceitação da cruz. Celebrar é recordar aqui e agora o que Deus realizou no passado da história da salvação, tornando vivo e presente todo esse passado e projetando-o ativamente para o futuro”.
O exemplo mesmo vem do Filho de Deus, na profecia do velho Simeão, que se realizou na realidade e cultura de seu tempo, resgatando a esperança e trazendo otimismo para a humanidade, ao colocar o menino nos braços e dizer: Este menino será sinal de contradição (cf. Lc 2, 33-35). Embora ele assumisse em tudo a condição humana, menos o pecado, causou escândalos e conflitos, além de questionar os donos poder, ao mesmo tempo em que defendeu os marginalizados e excluídos. Por fim recebeu o preço de sua missão: a morte de cruz.
No alto da montanha, Jesus Cristo, antes da sua paixão, com Moisés e Elias revelou o esplendor de sua face amiga, dizendo-nos que haveremos de nos transfigurar, na seguinte afirmação: “Nós somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o Salvador, o Senhor, Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso” (Fl 3, 20-21).
Guardemos no íntimo do coração a mensagem de otimismo e esperança, deixada por Dom Helder Câmara, o artesão da paz e cidadão do mundo, ao falar com paixão que Deus é amor: “Fomos nós, as tuas criaturas que inventamos teu nome!? O nome não é, não deve ser um rótulo colado sobre as pessoas e sobre as coisas… O nome vem de dentro das coisas e pessoas, e não deve ser falso… Tem que exprimir o mais íntimo do íntimo, a própria razão de ser e existir da coisa ou da pessoa nomeada… Teu nome é e só podia ser amor”.
Por Padre Geovane Saraiva, padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e vice-presidente da Previdência Sacerdotal. Pároco de Santo Afonso – [email protected]