Cada celebração do nascimento de Cristo é uma reafirmação da força invencível da Verdade e do Bem. Mostra o valor de uma luz que se acende nas trevas. Em meio à fome, discórdias, conflitos e guerras entre os homens, cada comemoração do nascimento do redentor deve ser um ato de Fé na mensagem salvífica do Evangelho e o anúncio da solidariedade do Cristo com os homens. Aí está a fonte da invincibilidade da Luz que ali se acendeu. A Festa do Natal nos convida insistentemente à reflexão. Oportunidade esta para uma visão retrospectiva sobre os mais de dois milênios que nos separam do nascimento de Cristo em Belém. A doutrina que ele veio trazer aos homens, os caminhos que abriu, os resultados de sua obra, iniciada no estábulo, compensaram, nesse longo período da história, tanto sacrifício e abnegação? Obviamente, a resposta é afirmativa se nossa apreciação é feita à luz da fé, tendo em vista os insondáveis desígnios de Deus. Mas também nossa apreciação é positiva sob o ângulo puramente terreno. Basta olhar a trajetória da humanidade nesses séculos, para ver que o Menino nascido em Belém é realmente vitorioso.
Pensemos no fim da escravatura, na emancipação da mulher, na preservação do direito à vida, na preocupação pelo bem-estar do outro, nos direitos humanos, na justiça e igualdade para todos etc. Interessante observar que as idéias por ele ensinadas agem como fermento, às vezes sem o rótulo de origem, mas que ao observador arguto são facilmente identificáveis. Além disso, ajudou à melhor explicitação da lei natural, mesmo entre aqueles que não aceitam o nome de cristão. Porém, depois de mais de dois mil anos resta ainda um longo caminho a percorrer para uma total aceitação de uma doutrina que não pode ser vivida por partes, mas que traz em si uma exigência de uma opção definitiva. Junto ao Prescépio, observemos o mundo em que vivemos: corações amargurados, guerras, ódios, injustiças chocantes, egoísmo e individualismo exacerbados, miséria deplorável, fome, doenças, desemprego, narcotráfico crescendo verticalmente, desrespeito à pessoa humana, assaltos e assassinatos etc. e temos aí uma idéia do caminho a percorrer.
Todos buscam na época do Natal, a alegria, embora muitos ignoram sua origem ou confundam-na com a manifestação de sentimentos meramente humanos quando, na verdade, ela revela um acontecimento extraordinário na História: o nascimento do Redentor. A universalidade das comemorações natalinas é algo assombroso em um mundo que aparenta estar divorciado do eterno. Nas mais diversas modalidades, mesmo sem conheceram explicitamente o Cristo, e até rejeitando-o os homens se alegram e desejam uns aos outros felicidade. Há preocupação em comunicar ao próximo o bem-estar. Como uma aula universal, um mestre invisível para muitos, mas sempre admirável cada ano transmite ao mundo lições de paz, de concórdia, de fraternidade. O Natal, infelizmente deturpado em algumas de suas manifestações, é uma escola do Bem, um impulso em busca do Infinito.
Diante de nossa realidade, das imensas dificuldades do mundo de hoje, alguém que contemple o Presépio e escute a voz misteriosa de Deus, que se fez carne, não poderá ser dominado pelo pessimismo. Porque, brota do íntimo do ser humano um imenso grito de gratidão, de reconhecimento a esta Criança, que se fez semelhante aos homens, para que nós nos assemelhássemos a Deus. Do silêncio de Belém, emana uma magnífica proclamação de presença de Deus no mundo. Ali está o Salvador fonte de felicidade e paz. O Prescépio exprime uma lição a um mundo que valoriza exageradamente o dinheiro, o poder e o gozo. Na manjedoura está alguém que de tão pobre nem uma casa possui, nasce em um estábulo, desconhecido dos poderosos. De outro lado, recebe com o mesmo carinho pobres e ricos, ignorantes e letrados, pastores, reis e sábios. Seu ensinamento é de união e renúncia e não de ódio e separação. O Natal nos faz encontrar o Senhor na forma mais humana e humilde. Na pobreza da gruta o homem descobre o seu Criador e, se aceita voluntariamente o Santo descido até nós, recebe uma força que nos leva até Deus.
Para nós cristãos o Natal assume proporções extraordinárias e contém ensinamentos profundos, como revela a própria essência divina. O Natal proclama a inserção de Deus no mundo, neste mundo em que nós vivemos. Ele não se envergonhou de se nivelar a nós, pois em sua geneologia se encontram pecadores. Esta inserção de Cristo na humanidade é uma mensagem de humildade e de perdão. Seu nascimento ultrapassa toda a obra de Deus Criador, plenifica as maravilhas da providência divina. Ele se irradiou e está vivo em toda parte. O Precépio é de maneira inefável a manifestação de Deus, único e santo. O Natal nos faz encontrar o Senhor na forma mais humana e humilde. Na pobreza da gruta o homem descobre o seu Criador e, se aceita voluntariamente o Santo descido até nós, recebe uma força que nos leva até Deus. Em meio ao bulício das festas e transbordamentos de alegres manifestações, é importante e necessário preservar a tranqüilidade interior para uma frutuosa e douradora comemoração do Natal.
Nesta conjuntura, como viver o nascimento de Cristo? Festejos meramente profanos? Votos vazios de significado real? Ou, pelo contrário, gratidão pela vinda de Deus, aceitação de sua presença em nossa vida, apoio à sua mensagem de justiça e amor? Então a celebração do Natal tem sentido: na mensagem de felicidade que desejamos aos amigos, a voz assume novo timbre, os presentes se enriquecem, pois transmitem a alegria do coração, o fruto de paz, oriundo do Presépio. Natal é a riqueza de Deus oferecida aos homens. Vamos recolher esse tesouro, e reparti-lo com nossos irmãos, com todo o Povo de Deus. Dentro desta fundamentação cristã, abrindo o coração a uma alegria inesgotável, que se expressa também materialmente, lembremo-nos dos que sofrem, dos injustiçados, dos que não conhecem o Cristo. Assim, o Natal, pobre ou rico, entre sorrisos ou lágrimas, terá o brilho da estrela de Belém e a paz da manjedoura: aqui estará o Cristo, fonte de felicidade e paz. É este o Natal de 2016 que eu desejo aos leitores deste artigo. Amem.
Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald
Redentorista e Professor Titular Aposentado da UFC,
Assessor da CNBB Reg. NE1