O ano de 2010 foi marcado por muitos assassinatos de lideranças camponesas. O Caderno de Conflitos no Campo Brasil, da CPT, registrou 34 assassinatos.
Recentemente, foi com profunda tristeza e igual indignação que recebemos a notícia do assassinato de mais três companheiros que, após várias ameaças, tiveram suas vidas ceifadas:
• No dia 24 de maio, os ambientalistas JOSÉ CLÁUDIO RIBEIRO DA SILVA e sua esposa MARIA DO ESPÍRITO SANTO SILVA, foram assassinados a tiros no interior do Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará.
• No dia 27 de maio, foi ADELINO RAMOS, o Dinho, sobrevivente do massacre de Corumbiara, assassinado pela manhã, no distrito
Ponta de Abunã, município de Porto Velho, em Rondônia.
Os motivos? A luta pela justiça, a defesa da floresta e dos direitos de seus povos. Preocupa-nos, cada vez mais, a ação de fazendeiros e madeireiros, bem como de outros grupos do grande capital, que ameaçam aqueles que levantam a voz contra as injustiças e preocupa-nos, ainda mais, a omissão e o descaso dos governos em garantir a segurança destas pessoas ameaçadas. Os representantes políticos, que ocupam os mais diversos cargos, em todas as instâncias, deveriam agir no sentido de coibir estes crimes e não o fazem. Assim, não são somente omissos, mas também coniventes, pois fazem concessões e criam leis favoráveis a latifundiários e madeireiros que desmatam, expulsam comunidades, perseguem e assassinam lideranças que se colocam ao lado dos mais pobres.
A violência Deus condena e, aqueles que a praticam, de maneira especial contra os mais pobres e indefesos, pagarão caro. A história de impunidade vai se repetindo. Somente numa semana, assassinaram três companheiros e, muito provavelmente, os mandantes e executores permanecerão impunes. Quando muito, serão condenados os executores, mas os mandantes, os “grandes do crime”, seguirão livres fazendo mais vítimas desta ganância por dinheiro e assalto às riquezas naturais.
Indigna-nos este fato e perguntamos até quando viveremos numa sociedade onde manda e desmanda quem tem dinheiro e, aqueles que detêm o poder político, não têm a mínina capacidade e vontade de promover a paz e a justiça.
A tristeza toma conta de nós, mas a morte destes companheiros fortalece a nossa indignação e o nosso compromisso com os camponeses e camponesas. Daremos continuidade à luta destes nossos irmãos e desta nossa irmã, exigindo justiça e punidade para os criminosos, para que outros/as companheiros/as não venham a ter suas vidas tiradas de forma tão brutal.
A Romaria dos Mártires aumentou… Seguem agora José Cláudio, Maria do Espírito Santo e Dinho. Seu martírio é fonte de testemunho vivo e vivificador, pois morreram defendendo a vida dos pobres, os preferidos de Deus, e a da natureza, a criação de Deus.
Fazemos nossas as palavras do Profeta Miquéias: “Escutem, líderes e autoridades do povo! Vocês que deviam praticar a justiça e, no entanto, odeia o bem e amam o mal. Vocês tiram a pele do meu povo e arrancam a carne dos seus ossos. Vocês devoram o meu povo: arrancam a pele, quebram os ossos e cortam a carne em pedaços, como se faz com a carne que vai ser cozinhada” (Mq, 3,1-3). Mesmo quando não o fazem diretamente, mas deixam de agir quando deveriam a fim de coibir e punir os criminosos do povo, trazem para si a mesma responsabilidade.
O sangue destes companheiros e desta companheira regou o chão e fará crescer a planta a justiça, cujo fruto é a paz (Is. 32,17). Eles permanecem vivos em nossas vidas, em nossas lutas.
A CPT Ceará se solidariza com os familiares de José Cláudio, Maria do Espírito Santo e Adelino Ramos, ao mesmo tempo em que se une na luta pela justiça.
Fortaleza, 30 de Maio de 2011
Comissão Pastoral da Terra – Ceará
Uma resposta
A luta pelo Reino de Deus e a sua Justiça é a Missão de todo cristão. Infelizmente estamos ainda a celebrar o assassinato de mais irmãs e irmãos de caminhada e luta. É uma tristeza, e tristeza ainda maior que a sociedade não se mobilize com mais vigor para exigir justiça e a punição dos culpados e dos mandantes. pe. Luis Sartorel