O Ano Santo recorda os 50 anos de conclusão do Concílio Vaticano II

Cidade do Vaticano (RV) – Cinquenta anos atrás, 8 de dezembro de 1965, Paulo VI concluía o Concílio ecumênico Vaticano II. O Papa Francisco quis abrir o Jubileu extraordinário da Misericórdia em coincidência com este significativo aniversário.

“A Igreja – escreve o Papa Francisco na Bula de convocação do Jubileu – sente a necessidade de manter vivo aquele evento. Iniciava para ela um novo percurso de sua história. Os Padres conciliares haviam percebido fortemente, como um verdadeiro sopro do Espírito, a exigência de falar de Deus aos homens de seu tempo num modo mais compreensível. Abatidos os muros que por tanto tempo haviam fechado a Igreja numa cidadela privilegiada, era chegado o tempo de anunciar o Evangelho de modo novo. Uma nova etapa da evangelização de sempre. Um novo empenho para todos os cristãos para testemunhar a sua fé com mais entusiasmo e convicção. A Igreja sentia a responsabilidade de ser no mundo o sinal vivo do amor do Pai.”

Sobre a relação entre o Concílio que promoveu o diálogo da Igreja com o mundo contemporâneo e o Ano Santo que quer abrir a Porta a da Misericórdia à humanidade inteira, a Rádio Vaticano entrevistou o docente de História contemporânea na Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, Agostino Giovagnoli. Eis o que disse:

Agostino Giovagnoli:- “Indubitavelmente, há uma forte ligação entre este Jubileu da Misericórdia e o Concílio Vaticano II. Aliás, apalavra “misericórdia” nos conduz ao coração do Vaticano II: no discurso de abertura, João XXIII indicava propriamente esta palavra como chave de uma escolha da Igreja inteira de superar uma lógica, embora legítima, de justiça, a qual, porém, depois, muitas vezes restringiu as perspectivas, bloqueou os processos e talvez a experiência da Igreja que é experiência, ao invés, do dom da misericórdia de Deus que deve ser comunicada aos homens. Portanto, creio que, nesse sentido, há, sobretudo, uma forte ligação com as intenções que, na época, foram de João XXIII e que hoje o Papa Francisco relança com muita intensidade.”

RV: O Vaticano II é recordado por seus documentos conciliares: decretos, declarações e constituições. Indubitavelmente, porém, o Concílio foi uma reviravolta para a Igreja…

Agostino Giovagnoli:- “Foi um momento de reviravolta e, diria, que o entendemos sempre mais na medida em que nos distanciamos no tempo. Aquela reviravolta que os contemporâneos e os próprios protagonistas, os Padres conciliares, aqueles que estavam próximos deles, talvez não tenham entendido, nós todos não entendemos, em sua profundidade, intensidade, porque os documentos deixados do Vaticano II são certamente muito ricos e muito importantes, mas ainda mais significativos são os temas abordados: a Palavra de Deus, a relação com as outras confissões cristãs, as relações com as outras religiões, a própria natureza da Igreja, ou seja, evidentemente, há dentro de si um impulso a uma renovação, embora na tradição, porque há também um sentido de recuperação da tradição mais profunda que a Igreja quis fazer com o Vaticano II, mas desvinculada daquela rigidez de cinco séculos de história europeia, porque disso se trata: de uma estreita e forte ligação que foi rica e importante entre a Igreja católica e a realidade da Europa de então, que era a Europa no momento de seu fulgor, a Europa da idade moderna, mas que, na medida em que a perspectiva da Igreja se tornava cada vez mais ampla, sempre mais global, começou a representar um limite, um freio do qual precisava sair e diria que o Vaticano II, sendo muito feliz, abriu estradas que permitiram, justamente, caminhar numa perspectiva sempre mais global.

RV: A impressão é de que hoje o Papa Francisco queira reconduzir essa Igreja pós-conciliar a uma maior atenção aos pobres. No fundo, a abertura do Jubileu em Bangui, na República Centro-Africana, uma terra dilacerada por violências e pobreza, foi demonstração disso…

Agostino Giovagnoli:- “Exatamente, e isso é muito bonito. Ele mesmo falou de Bangui como “capital espiritual do mundo”, graças a esse gesto. Efetivamente, é uma reviravolta da clássica ótica centro-periferia: com a abertura desta Porta Santa, Bangui foi o centro do mundo foi Bangui, e isso deve tornar-se uma perspectiva mais ampla. Nesse sentido, o discurso sobre os pobres é um discurso que tem muitas vertentes importantes e também aí nos encontramos novamente no coração do Vaticano II, porque no Vaticano II houve o sentido da Igreja de todos e, em particular, dos pobres, usando palavras de João XXIII. Talvez, depois, tenha se perdido um pouco, num debate pós-conciliar que por vezes é confuso, mas agora, ao invés, à distância de tempo retorna com força – graças propriamente ao Papa Francisco – este tema dos pobres, porque os pobres são inovadores, os pobres são o futuro do mundo, as Bem-aventuranças são dirigidas aos pobres e isso não é absolutamente secundário, porque o Reino de Deus é visto na perspectiva dos pobres, com os olhos dos pobres. E então, se quisermos olhar para o futuro do mundo, é daí que é preciso recomeçar. Também na “Laudato si” há esse sentido muito forte que os problemas do ambiente, hoje, exigem privilegiar o ponto de vista dos pobres.” (RL)

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