Somos convidados, neste tempo de Páscoa, a reconhecer e seguir o Senhor ressuscitado, desejosos de um convívio fraterno, com solidária partilha. Ele quer ser presença no nosso meio e quer caminhar com a humanidade, quer revelar o sentido misterioso de sua vida, morto e ressuscitado, de modo especial nas situações exigentes e difíceis. Numa comparação com os discípulos de Emaús, muitas vezes ficamos desiludidos e perplexos, tristes e desanimados, como se a vida não tivesse mais sentido. Cristo, um anônimo e estranho companheiro, se torna amigo de caminhada. Sua presença causou no coração deles algo diferente, tão forte, a ponto de provocar neles uma mudança radical de vida!
A ressurreição é a grande verdade que deve mexer com a nossa vida, assim como aconteceu com as comunidades no início do cristianismo. É uma mística que invade toda a nossa existência, ao mesmo tempo em que se renova a nossa esperança, trazendo para nós um novo sentido. Estejamos certos de que, pela graça do Ressuscitado, experimentamos a certeza da plenitude em Deus, dom maior da vida humana. O Evangelho dos discípulos de Emaús tem a sua parte central na explicação das Escrituras e no anúncio da ressurreição, pelo próprio Jesus, que se tornou nosso irmão, ao revelar seu projeto para a criatura humana.
Ao ficar conosco, Jesus é aquele que comunica e partilha a vida. Constantemente, está do nosso lado, nas alegrias, nas tristezas e nos desafios da vida, amando cada pessoa, com amor eterno, na sua missão redentora. O Filho de Deus desceu do céu e veio morar entre nós, ao revelar a vontade do Pai, estabelecendo-se no meio da humanidade, e não quer só conversar conosco, mas demonstrar toda a força de seu amor infinito, oferecendo-nos sua amizade e dando-nos sua vida pela nossa realização plena: a salvação.
Os dois discípulos sentiram a necessidade de retornar para junto dos outros e contar a maravilhosa novidade: “O Senhor está vivo! Nós o vimos! Ele nos falou das Escrituras e comeu o pão conosco. Nosso coração ardia pelo caminho” (cf. Lc 24,13-35). O coração deles ardia, consumia-se em chamas e inflamava-se de amor, porque ele é eterno e nele está o sentido da vida, causando neles profundas motivações. Jesus ressuscitou, e os discípulos reconheceram quando ele partiu o pão. Hoje, o Ressuscitado quer ficar conosco, abrir nossos olhos, ficar no nosso meio e caminhar com o seu povo.
Emaús hoje é a nossa comunidade, é o nosso dia a dia. Embora, muitas vezes não reconhecemos Jesus nos caminhos da nossa vida e não acreditamos que está ao nosso lado; também não acreditamos que ressuscitou de verdade. É indispensável um profundo desejo de encontrá-lo, num contexto de desânimo, semelhante ao percurso dos mesmos discípulos de Emaús: falar com o Senhor ressuscitado, ouvi-lo, é maravilhoso!
Que possamos pronunciar esta palavra sagrada: “Verdadeiramente o Senhor ressuscitou!”. Ele quer ser consolo para nossas vidas, força nas nossas dificuldades, luz a iluminar nossos caminhos e, sobretudo, abrir nossos olhos e fazer arder nossos corações. Também é nosso o ardente desejo do encontro com o Senhor ressuscitado, não nos cansando de dizer: “Fica conosco, Senhor!”.
*Padre Geovane Saraiva – Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
Foto: franciscanos.org