Em Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre, sendo ele a imagem do Deus invisível, o primogênito da criação e nele tudo subsistindo (cf. Hb 13, 8; Cl 1, 15), temos a mais ampla comunicação de Deus com o mundo, na sinopse de sua perfeita manifestação em favor da humanidade. Na mais elevada obra de seu amor divino, no que diz respeito às criaturas de Deus, que não se prescinda no maior esplendor da Igreja, ela como prolongamento do mistério do mesmo Cristo e Senhor, através do tempo e de todo o delineamento da história, até o cumprimento de sua promessa, em seu retorno glorioso.
Cristo e Senhor bem que ajuda, no sentido de que, voltados para a cidade de Fortaleza-CE, no seu lado arrojado e moderno, com construção verticalizada, torres e arranhas-céus, nos faz pensar no pobre estado do Ceará, de clima semiárido, com lugares quase desertos. Refletir, sim, nas “alturas” da capital alencarina, que nos parece um deserto, longe de vegetação, levando-se em conta as residências lá no alto. Como não se atentar, a partir de um ângulo perpendicularizado e aprumado de nossa cidade? Que seja na lógica do Livro Sagrado: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os seus construtores; se o Senhor não cuida da cidade, em vão vigiam as sentinelas” (Sl 127).
Sem um olhar profético, fica quase impossível para a criatura humana se tornar guardiã da fé e portadora de esperança em um mundo da técnica, aqui em questão a engenharia, bela, esplendorosa e encantadora pelas edificações da cidade de Fortaleza, mas, provavelmente, em contrariedade e desarmonia com a vontade de Deus. Da parte do gênero humano, incorporado pelo Sacramento do Batismo no mistério de Cristo, nota-se e percebe-se a alegoria da videira e dos ramos, como na sua palavra: “Eu sou a videira verdadeira, e vós sois os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele, esse produz muitos frutos, porque sem mim nada podeis fazer” (cf. Jo 15, 1-8).
O mundo da querida cidade de Fortaleza, que caminha para três milhões de habitantes, é antagônico, complexo e diverso. Para que Fortaleza possa ser transformada, em meio às grandes modificações ou transições, urge uma aproximação dos que vivem na aridez do alto, nos condomínios verticalizados com os que vivem em lugares também áridos, na extrema carência, convindo superar essas incongruências, também preconceitos e intolerâncias, mas tudo dentro do contexto da esperança cristã, na certeza de que se chegará o tempo em que Deus acabará com o domínio dos que pensam numa civilização individualista, longe de Deus, com explorados e exploradores, um povo longe de ser livre e independente.
Que as pessoas, umas confiando nas outras, com um amor verdadeiro, jamais se distanciem e nem contrariem aqueles que ousam usar de complacência e indulgência. Dom Helder Câmara, o filho mais ilustre de Fortaleza, bem que pode nos ensinar, num olhar solidário, terno e afável, mesmo com suas discrepâncias, contrastes e disparidades. Guardemos sua utópica aventura humanitária e seu pacifismo profético, em seu pensamento: “O verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus”.
Pe. Geovane Saraiva*
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).