O sentido da adoração na liturgia renovada

Nesta edição do espaço Memória Histórcia- 50 anos do Concílio Vaticano II, aprofundamos o verdadeiro sentido da Presença real – não simplesmente como adoração penitente, mas presença alegre e festiva, memorial do banquete sagrado.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar da reforma litúrgica.

Temos dedicado diversos programas deste nosso espaço ao tema da renovação litúrgica trazida pela Constituição Sacrosanctum Concilium. Dos dez importantes aspectos escolhidos, falta ainda comentarmos o verdadeiro sentido da Presença real – não simplesmente como adoração penitente, mas presença alegre e festiva e a Oração Universal, as preces.

Na edição de hoje, Padre Gerson Schmidt nos fala sobre “O sentido da adoração na Liturgia renovada”:

“Hoje queremos aprofundar o verdadeiro sentido da Presença real – não simplesmente como adoração penitente, mas presença alegre e festiva, memorial do banquete sagrado.

A Constituição Sacrosanctum Concilium, no número 07, fala das diversas formas de Cristo estar presente na Eucaristia que aqui já explicitamos. Diz assim: “Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente em sua Igreja, e especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois aquele que agora se oferece pelo ministério sacerdotal é o “mesmo que, outrora, se ofereceu na cruz”, como sobretudo nas espécies eucarísticas” (SC, 07). Cristo está presente, portanto, nas espécies eucarísticas também para ser adorado, mas não só.

A presença real de Cristo no Sacramento Eucarístico é para ser celebrado como presença viva, transformadora – não simplesmente como uma presença de adoração anestesiante, estática, mirabolante ou manipulável. Deus está presente na hóstia consagrada, não há dúvida disso. A Igreja definiu que Cristo no sacramento da Eucaristia está real, verdadeira e substancialmente nas hóstias e vinhos consagrados.

Para tanto, recordamos aqui a Carta Encíclica MYSTERIUM FIDEI, DE SUA SANTIDADE PAPA PAULO VI, datada em 3 de Setembro de 1965, na conclusão do Concilio, que destaca essa presença real nesses termos:

41. Esta presença chama-se “real”, não por exclusão como se as outras não fossem “reais”, mas por antonomásia porque é substancial, quer dizer, por ela está presente, de fato, Cristo completo, Deus e homem. Erro seria, portanto, explicar esta maneira de presença imaginando uma natureza “pneumática”, como lhe chamam, do corpo de Cristo, natureza esta que estaria presente em toda a parte; ou reduzindo a presença a puro simbolismo, como se tão augusto Sacramento consistisse apenas num sinal eficaz “da presença espiritual de Cristo e da sua íntima união com os féis, membros do Corpo Místico”.

Isso já dizia Paulo VI, no auge do Concílio. Mas, por vezes, entendemos muito mal esse sentido da presença concreta e palpável de Cristo na Sagrada Missa. Cristo está presente na celebração litúrgica não com a finalidade única de ser adorado. Também deve ser adorado. Mas sobretudo está presente de maneira real para celebrar a Páscoa conosco, para estar com a Igreja, para ser consumido como pão para a Vida Eterna, remédio para os pecadores.

O culto e adoração silenciosa às espécies eucarísticas cabem mais fora do banquete, no sacrário, do que dentro da missa em tom demasiadamente penitencial. Jesus Cristo está presente em função do Mistério Pascal e não para ser adorado pura e simplesmente. O pão e o vinho, uma vez consagrados em Corpo e Sangue do Senhor, estão feitos para serem comidos e bebidos e somente secundariamente para serem expostos em adoração.

A Eucaristia é fundamentalmente um banquete para conduzir todos à Pascoa, que é dinâmica, viva e celebrativa. Nós transformamos muitas vezes a Eucaristia em algo estático e manipulável à nossa devoção particular. Devido a controvérsia protestante, surgiram muitas devoções exageradas, antes do Concilio, ao “divino prisioneiro do sacrário”, reduzindo-se a missa ao fato de adorar e comungar e ter um encontro intimista com Jesus na hóstia consagrada, desvinculado do verdadeiro memorial da Páscoa do Senhor.

Foi por isso, que a partir do Concilio Vaticano II, se recomendou e se direcionou que o sacrário fosse colocado num ambiente lateral para priorizar o altar como foco principal da Santa Missa. No momento da Sagrada Eucaristia, o ponto central não é o sacrário, nem a adoração, mas o sacrifício eucarístico no altar, como banquete pascal repartido e oferecido para todos que celebram.”

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