Ao fim da obra da criação, a Terra era a casa da vida, pois esta é a vontade de Deus. Vida em todas as dimensões: de bactérias e protozoários a gigantes vertebrados, tudo se movia louvando o senhor. Refletindo sobre aquela obra e sobre o contexto do primeiro século do cristianismo, Santo Irineu afirma que “a glória de Deus é o homem vivo”.
Nem poderia ser diferente a sua conclusão. O primeiro gesto concreto e coletivo dos cristãos em sinal de amor foi recolher alimentos e dividir seus bens para alimentar os famintos, na comunidade cristã de Jerusalém. Este fato está registrado no livro Atos dos Apóstolos (2,42-47).
Significa que os cristãos compreenderam, de imediato, o valor da vida, o caráter sagrado de todas as formas de vida, em especial a das pessoas. Engana-se quem se conforma com a fome, acerta quem a promove e exalta o Senhor da vida – aquele que sacia os famintos.
É insuficiente estar vivo. A vontade de Deus é que vivamos todos com saúde, tendo acesso às tecnologias e ao saber, com todas as seguranças, inclusive a do salário suficiente para viver e manter os seus com dignidade.
Precisamos mais que respirar, pois o ar deve ser puro, sem agrotóxicos, livre dos gases de efeito estufa, para manter o clima na Terra e esta continuar sendo a casa de todos os viventes, portadora das condições para perpetuar a vida.
Está errada a pessoa que diz que basta rabiscar o próprio nome. Toda pessoa tem o direito de ler todas as enciclopédias e escrever não apenas bilhetes, mas obras científicas, romances e compor sinfonias.
Chega de tentar nos conformar com as migalhas que caem das mesas ricas! Todos nós somos capazes de ganhar com o suor do rosto “o pão nosso de cada dia”. Basta garantirem a homens e mulheres as condições para compreenderem o mundo e exercerem as profissões, tanto as tradicionais que permanecem como as que surgem neste tempo de revolução tecnológica.
Queremos que nossos filhos nasçam, cresçam e se desenvolvam em condições de igualdade. Este processo para garantir o completo desenvolvimento das pessoas precisa começar na infância e na juventude, mas continuar na idade adulta, pois sempre estamos aprendendo. A verdade é que todos precisam ter acesso à cultura do momento e aos meios de sobrevivência.
E quando chegar a hora da transição para a eternidade, que as pessoas da terceira e da quarta idade tenham o apoio da família e do Estado para a morte digna. Este ciclo da vida está no sonho das famílias e no sonho do Criador. Tanto isso é verdade que Jesus afirmou solenemente: “Eu vim para que todos tenham vida – e vida plena!” (Jo 10,10).
Ademir Costa é jornalista e diretor do Movimento Proparque