Depois de 30 anos afastado, o padre italiano Vito Mracapillo, expulso do Brasil pelo regime militar, está de volta a Pernambuco. Ele foi beneficiado por uma decisão inédita do Ministério da Justiça que lhe devolveu o visto de permanência.
O padre vai aproveitar sua passagem por Pernambuco para visitar algumas cidades da Zona da Mata Sul. Neste final de semana, irá aos municípios de Palmares e Ribeirão, e no dia 13 de janeiro, o celebra uma missa em Palmares em comemoração pelos 50 anos da diocese.
Em entrevista coletiva concedida nesta quarta-feira, 04, ele declarou que atuar no Brasil “é sua missão religiosa”. Ao ser questionado sobre como se sentiu ao ser expulso do país, Pe. Miracapillo respondeu que “foi como a morte”. “Eu chorei quando fui embora, mas desde aquela época eu perdoei todos aqueles envolvidos na minha expulsão. Eu disse ao capitão que me interrogou que não tinha nada contra ele. Meu problema era com a ditadura, o sistema, não as pessoas. Não guardo raiva, nem mágoa no coração”, explicou.
Censurado pelo regime
Pe. Vito foi acusado de ser subversivo, uma vez que lutava por condições de vida melhores para seus paroquianos e defendia um grupo de camponeses em busca da confirmação da posse das terras que ocupavam. “Um padre não pode fechar os olhos para as necessidades e problemas de seus paroquianos. Aquelas pessoas mereciam condições dignas de vida” – afirmou.
Ele era vigário na cidade de Ribeirão (Diocese de Palmares, PE) entre 1975 e 1980, e desenvolveu intensa atividade em defesa dos moradores, grande parte deles trabalhadores de cana-de-açúcar. Este foi o motivo de sua expulsão, em 1980, mesmo tendo havido forte campanha entre os setores democráticos e progressistas por sua permanência no Brasil.
O estopim para a expulsão foi sua recusa em celebrar duas missas em praça pública que a prefeitura local, com apoio dos militares e dos setores conservadores, queria impor ao sacerdote, uma delas pelo 7 de setembro, e outra pelo aniversário da emancipação do município de Ribeirão.
O padre justificou sua decisão dizendo, na época, que não celebraria aquelas missas “por vários motivos, entre os quais a não efetiva independência do povo, reduzido à condição de pedinte e desamparado em seus direitos”. Ele celebrou missas naqueles dias, mas fora da programação política que a prefeitura e a oligarquia local queriam lhe impor.
Foi apoiado pela CNBB nessa decisão, mas mesmo assim, acabou denunciado ao ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel pelo então prefeito, Salomão Correia Brasil (PDS, o partido da ditadura), e acusado de afronta à pátria. A expulsão foi confirmada pelo STF (Superior Tribunal Federal) por 11 votos a zero.
A devolução de seu visto de permanência foi comemorada pela CNBB e restaura uma grave violação cometida pela ditadura militar contra um sacerdote que se destacou na luta pela democracia e pelos direitos do povo e dos trabalhadores.
Fonte: Canção Nova