Dom Pedro Casaldáliga partiu aos 92 anos para o seio do Pai, aos 8 de agosto de 2020. Neste mundo, Deus lhe deu a graça de confiar no seu inesgotável amor, mesmo em meio a situações contrárias e adversas ao seu sonho solidário e fraterno, sentindo-se seguro na experiência da compaixão e da ternura divina. Dom Pedro foi grande e forte, com sua vida e seu anúncio profético a ecoar pelo mundo, mas tudo porque carregou consigo as angústias e as dores dos fracos, dos empobrecidos e dos injustiçados, com eles se solidarizando.
Dom Pedro, numa luta, evidentemente, desigual do nosso mundo, com suas exigências e desafios, estava convicto de que Deus o chamava a contribuir com sua obra libertadora, instaurada por Jesus de Nazaré.
Dito isso aproveito a circunstância vivida pela Igreja, por ocasião do mês vocacional, também em solidariedade para com os brasileiros que perderam seus amores para a Covid-19, já passando de cem mil pessoas, para agradecer ao bom Deus pelos meus 32 anos de ministério sacerdotal (14/08/1988), no que já disse alhures, com um lema que escolhi, embora longe de vivenciá-lo na sua plenitude: “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20, 7). Nunca perdi de vista o que nos fala o profeta Jeremias, de que a luta continua desigual. Na certeza da esperança, a partir da fome e sede de vida que há no interior do coração humano, vantagens e honras são incompatíveis e estão distantes do projeto de Deus, supremo bem. Ao encontrá-lo pelo ministério sacerdotal, nada sou, a não ser na misericordiosa justiça de Deus, na fé no mesmo Senhor e Deus.
Homenageio Dom Aloísio Lorscheider, instrumento de Deus, que me ordenou sacerdote, sendo ele modelo de sacerdote e anunciador da esperança cristã, homem certo, na hora certa, na estreita coerência evangélica, sinal vivo de Deus. Era um filho de São Francisco, de um coração naturalmente bom, terno e afável, configurado com Jesus de Nazaré, nos incontáveis modos de testemunhar sua fé. Se bem que São Francisco nos ajuda, na compreensão do profeta Jeremias, embora tivesse como seu referencial maior o “poverello” de Assis, na opção voltada aos empobrecidos, no consistente duelo por uma sociedade mais inclusiva, solidária e justa!
Dai-nos, ó Deus, a graça de compreender que só com a vida de fé, tendo como arquétipos incontáveis irmãos que nos precederam, na certeza de que vosso benevolente desígnio de amor está sempre mais a nos revelar a busca do verdadeiro caminho, mas com as marcas da solidária justiça divina. Assim nos atentamos melhor às razões, pelas quais buscamos os apelos da própria vida segundo a vontade de Deus, com pouco a nos queixar, mas com muito a render graças. Assim seja!
Pe. Geovane é pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF)