“A Cúria não é apenas um instrumento logístico e burocrático para as necessidades da Igreja universal, mas é o primeiro organismo chamado a dar testemunho; e por isso mesmo, na medida em que assume pessoalmente os desafios da conversão sinodal a que é chamada também ela, cresce a sua credibilidade e eficácia. A organização que devemos implementar não é de tipo empresarial, mas evangélico”, disse o Papa aos membros da Cúria Romana.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
Humildade: esta foi a palavra preponderante do discurso do Papa Francisco ao se reunir com os membros da Cúria Romana para os votos de Feliz Natal.
As festas deste período, disse o Pontífice, são também um momento de reflexão e exame de consciência para cada um de nós, “a fim de que a luz do Verbo encarnado nos mostre cada vez melhor quem somos e qual é a nossa missão”.
Todos somos leprosos necessitados de cura
Para Francisco, humildade é a palavra que expressa todo o mistério do Natal, é o caminho através do qual Deus escolheu para Se manifestar. Para melhor exemplificar este conceito, o Papa citou o sírio Naaman. General no tempo do profeta Eliseu com fama e glória, por trás da armadura escondia a lepra. Para ser curado, o profeta lhe pediu uma única coisa, simplesmente banhar-se no rio Jordão.
“Grande lição!”, disse o Papa. “A história de Naaman lembra-nos que o Natal é o tempo em que cada um de nós deve ter a coragem de tirar a própria armadura, desfazer-se das importâncias do cargo, da consideração social, do brilho da glória deste mundo, e assumir a sua própria humildade.
“Despojados das nossas roupas, prerrogativas, funções, títulos, todos somos leprosos que precisam de ser curados. O Natal é a memória viva desta certeza.”
É a tentação perigosa do mundanismo espiritual, lembrou o Pontífice. É o risco da soberba, a antítese da humildade.
Em Jesus, a humildade indica uma meta
A humildade, ao invés, é a capacidade de saber habitar a nossa humanidade e se deixa guiar por dois verbos: recordar e gerar. Em outras palavras, raízes e ramos.
“O humilde aceita ser posto em questão, abre-se ao novo; e fá-lo porque se sente forte com aquilo que o precede, com as suas raízes, a sua filiação. O seu presente é habitado por um passado, que o abre para o futuro com esperança.”
Vindo ao mundo pela via da humildade, disse ainda o Papa, Jesus abre-nos um caminho, indica-nos um estilo de vida, mostra-nos uma meta. A este ponto, Francisco menciona o início do percurso sinodal.
“Também neste caso, só a humildade é capaz de nos colocar na justa condição para nos podermos encontrar e ouvir, para dialogar e discernir.” Deus fala a todos, não apenas a alguns.
Conversão sinodal
Para o Papa, a sinodalidade é um estilo ao qual os primeiros a se converter devemos ser quem presta serviço no Vaticano:
“A Cúria não é apenas um instrumento logístico e burocrático para as necessidades da Igreja universal, mas é o primeiro organismo chamado a dar testemunho; e por isso mesmo, na medida em que assume pessoalmente os desafios da conversão sinodal a que é chamada também ela, cresce a sua credibilidade e eficácia. A organização que devemos implementar não é de tipo empresarial, mas evangélico.”
Assim, se a Palavra de Deus recorda ao mundo inteiro o valor da pobreza, os membros da Cúria devem ser os primeiros a comprometer-nos numa conversão à sobriedade.
Se o Evangelho anuncia a justiça, os mesmos devem ser os primeiros a procurar viver com transparência, sem favoritismos nem partidarismos. E isto só é possível pelo caminho da humildade.
Paixão pelos pobres
O estilo da humildade foi expresso pelo Pontífice nas três palavras-chave preferidas durante a abertura da assembleia sinodal: participação, comunhão e missão. Falando de modo especial sobre a missão, Francisco recorda que esta é a salvação para o fechamento.
A missão inclui sempre a paixão pelos pobres. “A Igreja é convidada a ir ao encontro de todas as pobrezas, sendo chamada a pregar o Evangelho a todos, porque todos nós, duma forma ou doutra, somos pobres, somos carentes.”
Os votos do Papa, não somente para a Cúria, mas para si próprio, é deixar-se evangelizar pela humildade do Natal, do presépio, da pobreza e essencialidade em que o Filho de Deus entrou no mundo.
Até mesmo os Magos, quando se encontram diante do Menino, prostram-se. “Não é apenas um gesto de adoração; é um gesto de humildade.”
“Só servindo e só concebendo o nosso trabalho como serviço é que podemos ser verdadeiramente úteis a todos. Eis a lição do Natal: a humildade é a grande condição da fé, da vida espiritual, da santidade.”
Fonte: Vatican News