A tempestade da violência de Herodes, que massacra as crianças de Belém, irrompe imediatamente também sobre o recém-nascido Jesus. Um drama sombrio que se repete noutras formas da história. O século que gera inteligência artificial e planeia existências multiplanetárias ainda não ultrapassou a chaga da infância humilhada, explorada e mortalmente ferida. Pensemos nisso: disse Francisco esta quarta-feira (08/01), na primeira audiência geral do novo ano
Raimundo de Lima – Vatican News
Na audiência geral desta quarta-feira (08/01), na Sala Paulo VI, no Vaticano, a primeira do novo ano, o Santo Padre dedicou sua catequese – no contexto adequado do Tempo do Natal – às crianças, em particular sobre o flagelo do trabalho infantil.
Francisco frisou que hoje sabemos voltar o nosso olhar para Marte ou para os mundos virtuais, mas temos dificuldade em olhar nos olhos de uma criança que foi deixada à margem e que é explorada e abusada. “O século que gera inteligência artificial e planeia existências multiplanetárias ainda não ultrapassou a chaga da infância humilhada, explorada e mortalmente ferida”.
Os filhos são uma dádiva, nem sempre tratada com respeito
O Pontífice ateve-se, por um momento, à mensagem que a Sagrada Escritura nos dá sobre as crianças, afirmando ser curioso notar como a palavra que mais ocorre no Antigo Testamento, depois do nome divino Jahweh (mais de seis mil e oitocentas vezes), é a palavra ben, “filho”: quase cinco mil vezes. “Olhai! os filhos (ben) são herança do Senhor; o fruto das entranhas é recompensa” (Sal 127,3).Os filhos são uma dádiva de Deus. Infelizmente, esta dádiva nem sempre é tratada com respeito. A própria Bíblia conduz-nos pelas ruas da história onde ressoam os cânticos de alegria, mas também se elevam os gritos das vítimas.
A tempestade da violência de Herodes, que massacra as crianças de Belém, irrompe imediatamente também sobre o recém-nascido Jesus. Um drama sombrio que se repete noutras formas da história. E aqui, para Jesus e para os seus pais, o pesadelo de se tornarem refugiados num país estrangeiro, como acontece hoje com muitas pessoas, muitas crianças.
Ainda hoje, há demasiadas crianças forçadas a trabalhar
Na sua vida pública, continuou o Papa, Jesus andava a pregar pelas aldeias juntamente com os seus discípulos. Um dia, algumas mães aproximaram-se d’Ele e apresentaram-Lhe os seus filhos para que Ele os abençoasse; mas os discípulos repreenderam-nos. Então Jesus, quebrando a tradição que considerava a criança apenas como um objeto passivo, chama a si os discípulos e diz: “Deixai as crianças vir a mim, não as impeçais, pois dos que são como elas é o reino de Deus”. Numa passagem semelhante, Jesus chama uma criança, coloca-a entre os discípulos e diz: “se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, jamais entrareis no reino dos céus”. Pensemos hoje nas crianças, exortou o Santo Padre.
Ainda hoje, em particular, há demasiadas crianças forçadas a trabalhar. Mas uma criança que não sorri e não sonha não será capaz de conhecer ou deixar florescer os seus talentos. Em todas as partes do planeta existem crianças exploradas por uma economia que não respeita a vida; uma economia que, ao fazê-lo, queima o nosso maior depósito de esperança e amor.
É inaceitável que as crianças sejam privadas de sua infância
Queridos irmãos e irmãs, disse Francisco, “aqueles que se reconhecem como filhos de Deus, e especialmente aqueles que são enviados para levar a boa nova do Evangelho aos outros, não podem ficar indiferentes; não podemos aceitar que as irmãzinhas e os irmãozinhos mais novos, em vez de serem amados e protegidos, sejam privados da sua infância, dos seus sonhos, vítimas da exploração e da marginalização”.
Peçamos ao Senhor, exortou por fim o Pontífice, “que abra as nossas mentes e corações ao cuidado e à ternura, e que todos os meninos e meninas do mundo possam crescer em idade, em sabedoria e em graça recebendo e dando amor”.
Exibição circense, um momento de alegria e descontração
Ao término, um grupo de circenses se exibiu na Sala Paulo VI, diante do Papa, enchendo a sala de luzes e cores, oferecendo aos presentes um momento de alegria e descontração. Francisco fez um efusivo agradecimento aos circenses.
Sou muito grato a essas mulheres e homens que nos fizeram rir com o circo. O circo nos faz rir como crianças. Os circenses têm essa missão, também entre nós: fazer-nos rir e fazer coisas boas. Agradeço muito a todos vós.