Ainda que o mundo mude, é possível permanecer fiel à vocação sacerdotal: esta foi a mensagem do Papa no último sábado, em um discurso espontâneo a cerca de 60 seminaristas, com quem teve um encontro na capela do seminário de Freiburg. Este era o único discurso, de todos os que o Pontífice pronunciou na sua viagem apostólica à Alemanha, que não foi escrito previamente.
Em resposta às inquietudes dos seminaristas, o Papa explicou qual é o significado do tempo que um aspirante a sacerdote passa no seminário. Para isso, tomou uma passagem do Evangelho de Marcos sobre a instituição dos Doze, que reflete uma dupla vontade de Jesus sobre seus discípulos: “estar com Ele” e “ser enviados” a uma missão.
A contraposição entre ambas as vontades é só aparente, explicou o Papa aos jovens: “Como sacerdotes, devemos sair aos múltiplos caminhos nos quais os homens se encontram, para convidá-los ao seu banquete nupcial. Mas só podemos fazer isso permanecendo sempre junto a Ele”.
“E aprender isso, esse sair, ser enviados, permanecendo junto a Ele, é – acho – precisamente o que temos de aprender no seminário”.
Outro dos elementos fundamentais do seminário, acrescentou Bento XVI, é “aprender a confiança” em Cristo, aprender a confiar-lhe a própria vocação: “Se Ele a quer realmente, então posso me confiar a Ele”.
Se Cristo quer essa vocação, Ele não a deixará morrer, disse o Papa: “Se Ele me ama, então também me sustentará; na hora da tentação, na hora do perigo, estará presente e me dará pessoas, me mostrará caminhos, me sustentará”.
O Papa sublinhou também dois outros aspectos da vida do seminário: o da importância de aprender a viver “com a Palavra” e o de aprender o que significa “ser Igreja”.
Com relação ao primeiro aspecto, disse que a chave para poder escutar Cristo é “aprender a escutá-lo de verdade – na Palavra da Sagrada Escritura, na fé da Igreja, na liturgia da Igreja – e aprender o hoje em sua Palavra”.
Se a pessoa vive com a Palavra, percebe que ela “não está longe, em absoluto, mas que é atualíssima, está presente agora, refere-se a mim e refere-se aos outros. E então aprendo também a explicá-la. Mas, para isso, é preciso um caminho constante com a Palavra de Deus”.
Com relação a aprender a ser Igreja, o Papa sublinhou que somente no “nós” é possível crer em Cristo.
“São Paulo escreveu que a fé vem da escuta, não da leitura. Precisa também da leitura, mas vem da escuta, isto é, da palavra vivente, das palavras que os outros me dirigem e que posso escutar; das palavras da Igreja através de todos os tempos, da palavra atual que esta me dirige por meio dos sacerdotes, bispos, irmãos e irmãs”, afirmou.
“Nós somos Igreja: sejamos Igreja! Sejamos Igreja precisamente nesse abrir-nos e ir além de nós mesmos; sejamos Igreja junto aos outros”.
Por último, o Papa falou aos seminaristas sobre a importância do estudo e da boa formação.
“Nosso mundo hoje é um mundo racionalista e condicionado pela cientificidade”. Diante disso, a fé “não é um mundo paralelo do sentimento, que nos permitimos além disso como um ‘plus’, mas é o que abraça o todo, lhe dá sentido, o interpreta e lhe dá também as diretrizes éticas interiores, para que seja compreendido e vivido frente a Deus e a partir de Deus”.
Por isso, o Papa sublinhou a importância de “estar informados, compreender, ter a mente aberta, aprender”.
Ainda que as modas filosóficas mudem, concluiu o Papa, “não é inútil aprender estas coisas, porque nelas também há elementos duradouros. E sobretudo, com isso aprendemos a julgar, a acompanhar mentalmente um raciocínio – e a fazê-lo de forma crítica – e aprendemos a fazer que, ao pensar, a luz de Deus nos ilumine e não se apague”.
“Estudar é essencial: somente assim podemos enfrentar a nossa época e anunciar-lhe o logos da nossa fé”, acrescentou.