Papa Francisco e a Política

O Novo Humanismo proposto pelo papa Francisco abre um horizonte para repensar a política, uma dimensão essencial na vida humana. O papa apresenta um fato marcante da sociedade contemporânea: a subordinação da política à economia o que é eticamente insustentável. Daí a formulação ética fundamental do papa: “A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando, no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem ao serviço da vida, especialmente da vida humana”  (LAUDATO SI’, 189). Isto significa para o papa que ela seja capaz de reformar profundamente as instituições o que implica que não faltem “as grandes metas, os valores, uma compreensão humanista e rica de significado, capazes de conferir a cada sociedade uma orientação nobre e generosa” (LAUDATO SI’,181). 

Isto só ocorre quando se abre espaço para “pensar e discutir acerca das condições de vida e de sobrevivência de uma sociedade, com a honestidade de pôr em questão modelos de desenvolvimento, produção e consumo” (LAUDATO SI’, 138). Numa palavra, precisamos de uma  política que considere nossa situação com uma visão ampla e seja capaz de empenhar-se por uma reformulação integral de nossa vida coletiva. A política manifesta sua grandeza precisamente “quando, em momentos difíceis, se trabalha com base em grandes princípios e pensando no bem comum a longo prazo” (FRATELLI TUTTI, 178). Por isto, se a política não tem capacidade de romper com  essa lógica perversa que nos marca, vamos continuar sem poder enfrentar os grandes problemas da humanidade.

A política, assim, é a “expressão estrutural” do amor uma vez que o amor se exprime sempre em duas dimensões: a interpessoal e estrutural (relacionamentos sociais, econômicos e políticos): “… há também um amor “imperado”, que traduz os atos de caridade que nos impelem a criar instituições mais sadias, regulamentos mais justos, estruturas mais solidárias” (FRATELLI TUTTI, 186). É precisamente isto que o papa chama de amizade social: “O amor que se estende para além das fronteiras está na base daquilo que chamamos “amizade social”, em cada cidade ou em cada país. Se for genuína, essa amizade social dentro de uma sociedade é condição para possibilitar uma verdadeira abertura universal” (FRATELLI TUTTI, 99).  Numa palavra, o amor social nos leva a buscar o bem de todas as pessoas não só consideradas individualmente, mas também na dimensão social que as une (FRATELLI TUTTI, 182), pois “a ecologia social é necessariamente institucional…Dentro de cada um dos níveis sociais e entre eles, desenvolvem-se as instituições que regulam as relações humanas. Tudo o que as danifica comporta efeitos nocivos, como a perda da liberdade, a injustiça e a violência” (LAUDATO SI’, 142)

A primeira tarefa, então, da ação política é estruturar a sociedade de tal modo que possa desaparecer a miséria da vida humana:  sua tarefa é pôr em discussão a lógica subjacente ao contexto social e estruturar uma configuração alternativa da vida em comum.

Manfredo Oliveira UFC

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