Na sua homilia na Solenidade da Epifania do Senhor (06/01) o Papa Francisco orienta sobre os lugares onde encontrar o Senhor: na inquietação que se interroga; no risco do caminho e na maravilha da adoração: “Aí encontram o seu centro fontal, pois é o Senhor que suscita em nós o sentir, o agir e o operar”
Jane Nogara – Vatican News
Na Santa Missa da Festa da Epifania nesta sexta-feira (06) o Papa nos recordou que os Magos ao procurar o Senhor, buscavam-no através das estrelas, e adoraram-no. E disserta sobre os lugares onde encontrar o Senhor com o exemplo dos Magos. “Erguendo o olhar para o céu, hoje também nós nos perguntamos: ‘Onde está aquele que acaba de nascer?’”, iniciou Francisco, logo explicando que pela experiência dos Magos, compreendemos que o primeiro “lugar” onde Ele gosta de ser procurado é na inquietação que se interroga. Esclarecendo que “a aventura fascinante destes sábios do Oriente ensina-nos que a fé não nasce dos nossos méritos nem de raciocínios teóricos, mas é dom de Deus” .
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Inquietação que se interroga
Por que a inquietação que se interroga? “Porque esta é a primeira coisa que vemos nos Magos”, explica o Papa. “Habitados por uma profunda nostalgia do infinito, perscrutam o céu e deixam-se maravilhar pelo fulgor duma estrela, representando assim a tensão para o transcendente que anima o caminho das civilizações e a busca incessante do nosso coração. De fato, aquela estrela deixa no coração deles precisamente uma pergunta: Onde está aquele que acaba de nascer?”. E diz ainda:
“O caminho da fé tem início quando com a graça de Deus, damos espaço à inquietude que nos mantém acordados; quando nos deixamos interrogar, quando não nos contentamos com a tranquilidade dos nossos hábitos, mas envolvemo-nos nos desafios de cada dia”
E anima com a afirmação: “Nesses momentos, levantam-se do nosso coração as perguntas irreprimíveis que nos abrem à busca de Deus: Para mim, onde está a felicidade? Onde está a vida plena a que aspiro? Onde está aquele amor que não passa, não conhece ocaso, não se rompe nem mesmo diante de fragilidades, fracassos e traições? Quais são as oportunidades escondidas dentro das minhas crises e tribulações?
Atenção aos tranquilizantes da alma
O Papa segue sua homilia advertindo sobre os “tranquilizantes da alma”, ou seja, os substitutos para acalmar a nossa inquietude e apagar tais perguntas. Desde os produtos do consumismo até às seduções do prazer, enfim que fazem nos afastar da nossa busca. “Muitas vezes”, continua, “procuramos sistematizar o coração no cofre da comodidade, mas, se os Magos tivessem feito assim, nunca teriam encontrado o Senhor. Com efeito, Deus habita nas nossas perguntas inquietas; com elas, ‘procuramo-Lo como a noite procura a aurora’. Concluindo este ponto afirma mais uma vez: “o primeiro lugar é este: a inquietação que se interroga”.
O risco do caminho
O segundo lugar onde podemos encontrar o Senhor é no risco do caminho. De fato, explica o Pontífice, “os interrogativos, mesmo espirituais, podem induzir à frustração e desolação, se não nos puserem a caminho, se não dirigirem o nosso movimento interior para o rosto de Deus e a beleza da sua Palavra”. Explicando em seguida: “Na realidade, os Magos não se detêm a olhar o céu e contemplar a luz da estrela, mas aventuram-se numa viagem arriscada que não prevê, à partida, estradas seguras nem mapas definidos. Pretendem descobrir quem é o Rei dos Judeus, onde nasceu, onde podem encontrá-Lo”. Especificando mais uma vez:
“Os Magos estão a caminho: a maior parte dos verbos que descrevem as suas ações são verbos de movimento”
Nossa fé é um contínuo caminhar
O mesmo vale para a nossa fé: “sem um contínuo caminhar e um diálogo constante com o Senhor, sem escuta da Palavra, sem perseverança, a fé não pode crescer”. “Não basta qualquer ideia sobre Deus nem qualquer oração que acalma a consciência”, adverte Francisco, “é preciso fazer-se discípulo seguindo Jesus e o seu Evangelho, falar de tudo com Ele na oração, procurá-Lo nas situações do dia a dia e no rosto dos irmãos”.
A fé estática não cresce
Concluindo este ponto o Papa recorda: “Desde Abraão que se pôs a caminho para uma terra desconhecida até aos Magos que se movem seguindo a estrela, a fé é um caminho, uma peregrinação, uma história de partidas sucessivas. Recordemo-nos disto: a fé não cresce, se permanecer estática; não podemos encerrá-la em qualquer devoção pessoal, nem fechá-la dentro das paredes das igrejas, mas é preciso trazê-la para fora, vivê-la em caminho constante rumo a Deus e aos irmãos”.
Adoração
“Por fim”, conclui o Papa, “após a inquietação que se interroga e o risco do caminho, o terceiro lugar onde encontrar o Senhor é na maravilha da adoração. No termo de um longo percurso e uma busca fadigosa, os Magos entraram na casa, ‘viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-No’ (Mt 2, 11). Finalizando disse:
“Este é o ponto decisivo: as nossas inquietudes, as nossas perguntas, os caminhos espirituais e as práticas da fé devem convergir para a adoração do Senhor. Aí encontram o seu centro fontal, porque tudo nasce daqui, pois é o Senhor que suscita em nós o sentir, o agir e o operar”
Francisco conclui sua homilia sugerindo: “Como os Magos, prostremo-nos, rendamo-nos a Deus na maravilha da adoração. Adoremos a Deus e não o nosso eu; adoremos a Deus e não os falsos ídolos que nos seduzem com o fascínio do prestígio e do poder; adoremos a Deus para não nos prostrarmos diante das coisas que passam e das lógicas sedutoras, mas vazias, do mal”, acrescentando por fim: “Abramos nossos corações à inquietação, peçamos coragem para seguir o caminho e acabar em adoração: não tenhamos medo! É o caminho dos Reis Magos, é o caminho de todos os santos da história: receber a inquietude, se colocar à caminho e adorar”.
FONTE: VATICAN NEWS