Nos dias 10 e 11 de novembro, próximo passado, houve no Vaticano um simpósio internacional sobre o desarmamento de armas nucleares. No seu discurso de abertura Sua Santidade disse: “Não podemos deixar de ter uma forte inquietação se considerarmos as catastróficas consequências humanitárias e ambientais que derivam do uso de qualquer tipo de armamento nuclear. Precisamos condenar com firmeza a ameaça do seu uso, mesmo até a sua posse, porque a sua existência funciona para a lógica do medo que não atinge apenas as áreas do conflito, mas a inteira espécie humana”. O encontro no Vaticano reuniu cerca de 350 especialistas do mundo inteiro sobre o tema e também contou com a participação de 11 vencedores do Prêmio da Paz e representantes de duas organizações importantes: A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) (cf. Jornal do Brasil). Entre os diplomatas presentes no simpósio encontramos quatro diplomatas de países que possuem armas nucleares: os Estados Unidos, a Rússia, a Coreia do Sul e o Irã. O simpósio foi organizado pelo Arcebispo Silvano Maria Tomasi, Observador Emérito das Nações Unidas em Genebra e atualmente secretário do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, sob o título de “Perspectivas para um mundo livre de armas nucleares e desarmamento integral”. O simpósio foi organizado tendo em vista a perigosa crise entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos.
Cardeal Peter Turlson, que é Presidente do Pontifício Conselho de Justiça e Paz no Vaticano apontou ainda que “o desarmamento nuclear é um problema global que requer uma resposta global”, e acrescentou “o diálogo é essencial, um diálogo que deve ser inclusivo, envolvendo Estados nucleares e não nucleares, a sociedade civil, organizações internacionais, governos e comunidades religiosas”. O Cardeal enfatizou que “a Igreja Católica está engajada em promover este diálogo em todos os níveis”.
Ao final do simpósio várias premissas preliminares foram adotadas. Entre os quais podemos citar: (a) O uso e posse de armes nucleares merecem uma condenação, pois são instrumentos e armas de guerra desproporcionais e indiscriminadas. Como foi dito a nós pelo Papa Francisco, “Se também levarmos em conta o risco de uma detonação acidental como resultado de qualquer tipo de erro, a ameaça de seu uso, bem como sua própria posse, deve ser firmemente condenada”. Da mesma maneira, estes testes nucleares são repreensíveis e contaminam a atmosfera e os oceanos e sua contaminação poderia constituir crimes contra a humanidade. (b) A dissuasão nuclear, porém, não aborda adequadamente os desafios da segurança em um mundo multipolar. Em março de 2017, o Santo Padre escreveu em uma mensagem: “Se levarmos em consideração as principais ameaças contra a paz e segurança em suas mais diversas dimensões neste mundo multipolar do século 21, como por exemplo, o terrorismo, conflitos assimétricos, cibersegurança, problemas com o meio ambiente, pobreza, não existem algumas dúvidas quanto à inadequação da dissuasão nuclear como resposta efetiva a tais desafios”. c) O Papa Francisco deixou bem claro: “Alcançar um mundo sem armas nucleares envolve um processo a longo prazo, com base na consciência de que ‘tudo está conectado’ na perspectiva de uma ecologia integral (ver Laudato Si, 117, 138), o destino comum da humanidade exige o fortalecimento pragmático do diálogo e a construção e consolidação de mecanismo de confiança e cooperação capazes de criar condições para um mundo sem armas nucleares”. As outras premissas preliminares adotadas ao final do simpósio podem ser encontradas nos documentos do Vaticano.
Pe. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1.