O Sínodo dos Bispos sobre a Juventude, que ocorrerá em Roma, em outubro de 2018, terá um documento construído por jovens de todo o mundo para iniciar a discussão. Esse documento foi elaborado a partir da síntese das discussões da Reunião Pré-Sinodal, ocorrida de 19 a 25 de março de 2018, no Vaticano. Além dos 300 jovens presentes na reunião, outros 15 mil jovens participaram pelo Facebook em grupos divididos por países e organizados pelo Sínodo.
Pela primeira vez na história, a Igreja faz um processo de convocação de uma assembleia mundial com a juventude. Essa inserção no Sínodo começou ainda em 2017 com um documento preparatório enviado às dioceses, contendo os elementos a serem trabalhados no Sínodo e um questionário para desenvolver. Os primeiros passos indicam a abertura da Igreja para a escuta dessa categoria social que se distancia cada vez mais das instituições em suas formas já estabelecidas. Porém procura os espaços de atuação, política ou religiosa, a seus moldes na perspectiva de ser protagonistas de processos.
O documento final organizou-se em três partes: realidade juvenil; fé e discernimento vocacional; e atividade pastoral. Nestas categorias é possível perceber algumas discussões que foram desenvolvidas, mas ainda sem diretrizes. A participação de jovens de outras religiões, agnósticos e ateus, foi propiciada com o intuito de aprofundar a compreensão e o diálogo com as diferentes realidades juvenis. No documento final ficou perceptível a pluralidade de opiniões, sobretudo em temas polêmicos, como homoafetividade, sacerdócio feminino, migrantes e refugiados: “[…] muitos jovens querem que a Igreja mude seus ensinamentos […] muitos jovens católicos esperam que a Igreja proclame e aprofunde seus ensinamentos”. Fica em questão a juventude como uma categoria social em disputa na sociedade, mas não de forma homogênea. O sínodo de outubro pode reforçar apontamentos sintetizados, como o de uma “Igreja em saída, para as periferias, perseguidos e pobres […] uma Igreja relacional”, ou “Igreja que reforça os ensinamentos sobre os sacramentos”. Nem mesmo a juventude católica pode ser considerada uma categoria homogênea.
No diálogo com essa diversidade, o Papa Francisco em suas falas na reunião, na abertura e encerramento, ressaltou o pedido para a participação efetiva dos jovens na Igreja e incitarem seus debates. Na abertura convocou para que “falassem com coragem” e “deixassem a timidez na porta”, pois “esta reunião pré-sinodal quer ser o sinal de algo grande: o desejo da Igreja de ouvir toda a juventude, sem excluir ninguém”. No encerramento, em pleno Domingo de Ramos, Francisco convocou-os a serem profetas: “Queridos jovens, cabe a vocês a decisão de gritar, cabe a vocês decidirem-se pelo Hosana do domingo para não cair no ‘crucifica-O’ de sexta-feira”. Para Davi Rodrigues da Silva, secretário nacional da Pastoral da Juventude, em entrevista à IHU On-Line: “Dar voz apenas a uma juventude não basta, pois ela não é por excelência provocadora de mudanças”.
Para dialogar sobre o desenvolvimento da reunião e as disputas que envolvem a juventude, IHU On-Line entrevistou, por e-mail, os brasileiros delegados do Pré-Sínodo, Davi Rodrigues da Silva, secretário nacional da PJ e representante da Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB na reunião, e León Patrick de Souza, assessor da Cáritas do Brasil para infância, adolescência e juventude, e delegado como representante da Cáritas Internationalis.