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Parolin: a democracia está em crise, também aos católicos a missão de preenchê-la de valores

Cardeal Parolin durante seu discurso na Embaixada da Itália junto à Santa Sé 

Prêmio Embaixadores junto à Santa Sé foi concedido ao jornalista Damosso pela sua investigação sessenta anos depois da Pacem in Terris. Sublinhando o valor “testamentário” da encíclica de João XXIII, Parolin expressou os augúrios pelas Semanas Sociais em Trieste. Sobre o conflito na Ucrânia, imagina novas libertações de presos no futuro, depois, o apelo pelo Líbano, de onde acaba de retornar: é preciso urgentemente um novo presidente.

Antonella Palermo – Cidade do Vaticano

“Às vezes parece que o trabalho diplomático produz pequenos resultados, mas não devemos cansar-nos nem ceder à tentação da resignaçãoo”; a paz é tarefa de cada um de nós a partir da nossa vivência quotidiana, nas nossas cidades, nos nossos países, no mundo. Assim o cardeal secretário de Estado Pietro Parolin no seu discurso nesta terça-feira, 2 de julho, na Embaixada da Itália junto à Santa Sé, por ocasião da quinta edição do Prêmio Literário dos Embaixadores junto à Santa Sé. O reconhecimento deste ano foi para o jornalista da RAI Piero Damosso, pelo seu livro “A Igreja pode parar a guerra? Uma investigação sessenta anos depois da Pacem in Terris” (Edizioni San Paolo).

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Pacem in Terris é um testamento

O cardeal Parolin recordou a gênese e o contexto histórico em que se desenvolveu a Encíclica de João XXIII, que “se desenvolve sobre uma partitura composta por muitos outros pronunciamentos”. Reiterou que a paz universal é um bem que diz respeito a todos indistintamente. Também recordou a mensagem radiofônica daquele 13 de abril de 1963, Sábado Santo, na qual o então pontífice sublinhava a necessidade da paz com Deus, com todos os povos, nas famílias. Aquela encíclica, afirma o secretário de Estado, “é um testamento”. E observa que “aquelas palavras tão intensas de Roncalli são um patrimônio a ser salvaguardado e cultivado, cada um assumindo as próprias responsabilidades”.

Convidou-nos a insistir, nos atuais cenários de conflito em curso em vários pontos do planeta, com a ação diplomática, na certeza de que dará frutos e apelou à coralidade, à sinergia, à cooperação para sermos verdadeiramente artesãos de paz como deseja o Papa Francisco. Elogiou o livro premiado que, como afirmou, “tem o mérito de fazer florescer novamente o profundo desejo da paz com um método interessante”, fazendo falar diversas testemunhas e acadêmicos. Surge um livro que é uma reflexão abrangente sobre a paz.

A fraternidade como perspectiva de justiça

Precisamente o método de pesquisa e análise utilizado pelo autor (mais de cinquenta entrevistas) foi apreciado pelo júri que observou na motivação: “A Igreja, apesar de não ter o poder real de parar os conflitos, pode chamar a consciência humana universal a agir para derrubar os muros do ódio e da inimizade, indicando a fraternidade como perspectiva segura de justiça, solidariedade, inclusão e cuidado da terra. Por meio de sua investigação, o autor também destaca como o poder da oração do povo de Deus pode gerar corajosos projetos de encontro e de negociação”.

A cerimônia decorreu na presença do embaixador Francesco Di Nitto, da embaixadora da União Europeia junto da Santa Sé Alexandra Valkenburg e da presidente da Luiss School of Low, Paola Severino, advogada e jurista, que deu um importante contributo a este texto, junto com outras duas mulheres de diálogo, Edith Bruck e Dacia Maraini. Damosso, por sua vez, quis fazer um verdadeiro apelo às questões da defesa das minorias, do desarmamento e do papel ativo das instituições internacionais.

Parolin: o conceito de ‘guerra justa’ está em revisão

Antes do evento, o cardeal Parolin parou alguns minutos com os jornalistas e, questionado sobre os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente, sublinhou que a guerra nunca é uma guerra justa. À luz do documento divulgado pela Comissão de Justiça e Paz da Terra Santa em que se contesta o uso indevido da expressão ‘guerra justa’ em relação à violência em Gaza, Parolin declarou: “Sabemos que em relação ao conceito de guerra justa existe muita discussão hoje, a guerra justa é a guerra de defesa. Porém hoje com as armas que estão disponíveis este conceito torna-se muito difícil, creio que ainda não existe uma posição definitiva, mas é um conceito em revisão”.

No Líbano, é prioridade um novo presidente

Tendo apenas regressado de sua visita ao Líbano, foi-lhe perguntado que soluções imagina para o País dos Cedros, que fica na fronteira com Israel. “A primeira solução é a eleição do presidente da República. O importante é a urgência de ter um presidente, de encerrar esta crise institucional que está prejudicando todo o país”, respondeu o secretário de Estado do Vaticano.

Ele faz votos de um papel ativo dos cristãos dentro do sistema libanês. “Certamente não será a solução mágica, mas os problemas começarão a ser enfrentados com todas as forças institucionais”, declarou. Ele confirmou que o cardeal Mar Bechara Boutros Al Rai é ​​um ator ativo nesse contexto, “ele sempre procurou unir os cristãos e parece que existe uma vontade de união por parte dos partidos cristãos, de propor um ou mais candidatos comumente aceitos”.

Quando questionado por um repórter se há diálogo com a comunidade xiita, Parolin deixou claro que o diálogo não falta, mas “o problema é sobretudo do lado do Hezbollah, eles têm o seu candidato, trata-se de encontrar um candidato que seja aceito por todos os partidos.”

Ucrânia: “penso que poderia haver outras libertações de prisioneiros”

Com os jornalistas presentes na sede da Embaixada da Itália junto da Santa Sé, o cardeal Parolin falou também sobre a Ucrânia, respondendo em particular a uma pergunta relativa à proposta do primeiro-ministro húngaro Orbán – na qualidade de presidente rotativo da União Europeia -, ao presidente ucraniano Zelenskiy por um cessar-fogo imediato para facilitar uma negociação de paz.

“Pelo que sei, até agora os ucranianos sempre sew recusaram”, afirmou o diplomata vaticano, recordando que para o governo ucraniano se não houver garantias “isto poderia ser somente uma pausa para depois recomeçar de uma forma ainda mais crua e dura”. Nós realmente esperamos – diz Parolin  – que possa haver uma trégua e depois uma negociação”.

À luz da troca de prisioneiros para a qual a Santa Sé se tornou mediadora com sucesso, o cardeal imagina que poderia poderá haver outras libertações, “porque é um mecanismo que funciona – explica – que é distinto do das crianças. Naquele caso, há várias realidades envolvidas. No caso dos prisioneiros é essencialmente uma troca de listas que são entregues às duas partes, por isso imagino que esta atividade irá continuar um pouco o que considero muito positivo e que poderá criar condições que poderão. também favorecem a paz e possíveis negociações”.

A democracia está em crise, precisamos preenchê-la com valores

A conversa com os jornalistas aborda também as próximas Semanas Sociais de Trieste, que serão coroadas pela visita do Papa no domingo, 7 de julho. O tema em debate é a democracia, considerado por Parolin de premente relevância “porque – observa – a democracia está em crise em muitas partes do mundo e creio que também é muito importante que os católicos reiterem a importância e a necessidade de ser a favor da democracia e sobretudo de preenchê-la de valores. A democracia – comenta – não é um simples exercício matemático, quem tem mais e quem tem menos, mas é sobretudo um exercício de valores, um inspirar-se em valores. ​que tornam possível a convivência social. Por isso acredito que a contribuição que os católicos podem dar é muito válida, espero que algo de bom venha destas semanas sociais”.

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