Brasão da Arquidiocese de Fortaleza

Paróquia São Vicente de Paulo – 3ª Urgência da Ação Evangelizadora: Igreja, lugar de animação bíblica e vida pastoral

Estudo bíblico, capítulo por capítulo;

Objetivo: Fazer com que as nossas comunidades leiam, conheçam e ponham em prática a Palavra de Deus.

Gênesis – 2ª Semana

Introdução

Caso você esteja tomando em mão pela primeira vez esse folheto (2ª Semana), saiba que já saiu o primeiro (1ª Semana). Nesse primeiro, apresento o Livro do Gênesis,  sua divisão,  bem como o estudo dos capítulos 1 e 2. É bom recordar que os capítulos 1 e 2 do Gênesis fazem parte de um bloco muito maior, Gn 1 – 11. Os fatos narrados nesse bloco não são fatos históricos testemunhados e documentados. São mais descrições simbólicas de fatos que sempre costumam acontecer: no passado, no presente e no futuro. Podemos dizer que Adão e Eva são todo casal, todo homem e mulher, desde o primeiro até o último. Caim é todo aquele que maltrata e mata o irmão. As desordens do dilúvio e a confusão que interrompeu a construção da Torre de Babel continuam aí bem visíveis em nossa sociedade contemporânea. É importante que  nossos leitores saibam que textos mesopotâmicos descobertos por arqueólogos influenciaram os autores sagrados que escreveram esse bloco do Gênesis de 1 – 11. Os textos mesopotâmicos datam de 3200 a.C. São eles: a) Relato Enumma Elish – mostra o contraste entre Marduc e a deusa Tiamat; b) Epopeia de Atrahasis – poema épico sobre a criação e o dilúvio universal. O deus Ea era formado pela argila; c) Epopeia de Guilgamesh – sábio que construiu uma arca para enfrentar o dilúvio.

ESTUDO DO CAPÍTULO 3,1-24 (leia o texto)

Neste capítulo, encontramos a ambiguidade humana e a graça de Deus, a origem do mal ou o pecado original, a serpente enganadora, a árvore do meio, “e sereis como deuses”, os dois abrem os olhos, descobrem que estavam nus, se esconderam de Deus, o protoevangelho e Adão e Eva expulsos do jardim do Éden.

O PECADO ORIGINAL

O pecado original não é a tendência que o ser humano tem para abusar do sexo. Alguns leitores podem pensar assim quando leem mal este texto de Gênesis. O pecado original é distanciar-se de Deus em função de um não deus – a própria pessoa que se coloca no lugar de Deus. Os personagens literários do relato do Gênesis, a mulher e o homem, são proibidos de tomar do fruto da árvore da ciência do bem e do mal.

Tomar o fruto da árvore da ciência do bem e do mal significa poder determinar o que é bem ou mal e o que é mal ou maldoso.

É a questão da liberdade vista de outra maneira. O ser humano parece ilimitado quando toma consciência de si mesmo. Quando o homem e a mulher se dão conta de que têm capacidade e possibilidades, eles querem estar no lugar de Deus, ou seja, usurpar a Deus.

A SERPENTE (o tentador)

O tentador é uma serpente (em hebraico, “na-hásh”: pronuncia-se nagaxi) o tentador – serpente recebeu 260 interpretações dos estudiosos bíblicos. Esse réptil, em geral, assusta as pessoas, pois é silencioso e ataca subitamente. É o símbolo da tentação que está sempre à espreita, escondida, mas disposta para atacar. É a personificação do mal, o próprio demônio, o diabo. Vem da religião dos cananeus (povo que habitava Canaã, antes do povo de Israel e que cultuava serpente). No Egito Antigo, a serpente, na tiara do faraó, simbolizava o olho do deus sol, que, com seu hálito, podia destruir os inimigos. Em Canaã e Israel, a serpente era símbolo de Baal, deus da fertilidade, das plantas e dos animais. Na religião oficial, legitimava a concentração de poder nas mãos dos reis. A serpente simboliza poder, sabedoria, juventude (muda a casca) e fertilidade; potência de fertilidade (Canaã); força política (Egito); na epopeia babilônica de Guilgamesh, ela roubava ao herói a planta da imortalidade. Por trás da roupagem mítica, pode-se ouvir a voz das comunidades camponesas e o anúncio dos profetas que denunciam o poder da serpente nas monarquias de Israel. (1Rs 9,16; 31-32; 2Rs 18,4; Os 2,10-15).

Ainda hoje, muitos seguem a lógica da serpente gerando tantos males que atingem a nós e a todas as outras formas de vida no planeta. Mas a última palavra não é da serpente (e serpente fala?). Javé veste o homem e a mulher e os coloca novamente para cultivar o solo, de onde tinham sido tirados, dando assim a chance de realizar-se com o projeto do Criador.

A TENTAÇÃO

A serpente, símbolo do tentador, o adversário, despreza a palavra de Deus e até zomba (leia Gn 3,4-5)

A MULHER

A mulher observa que o fruto é bonito de ser visto e apetitoso. Então, toma do fruto da árvore que lhe era proibido. Oferece ao marido e ele também toma do mesmo fruto. Ai começa a consciência do erro. Imediatamente, os olhos de ambos “se abrem” e eles percebem sua nudez. Antes, não havia qualquer tipo de maldade entre eles. Agora, já sentem um desejo que vai além do encontro afetivo e amoroso. É o pecado da autossuficiência. Diz o texto: “eles se escondem”.

Tudo muda com o pecado. Depois do pecado, quando o ser humano busca ser deus, praticamente tudo muda no relato. O ser humano passa a ter medo de Deus (v.10). Um joga a culpa no outro, empurrando a responsabilidade, encontrando vítimas do próprio erro (v. 11-13). Deus expulsa o ser humano, homem e mulher, do jardim (v. 23-24).

Antes do pecado, a criação “era boa”. Agora, tudo está em crise. A serpente será assustadora (v.14); ela porá medo na mulher e a mulher pisará na sua cabeça (v.15); a mulher dará à luz com dores no parto (v.16); o homem deverá sofrer para conseguir algo da natureza (v.18-19), sendo que antes era tudo fácil, normal e abundante.

Um destaque especial damos a Gn 3,15.

O magistério da Igreja, através de muitos padres da Igreja, aplica este versículo a Maria, principalmente a Imaculada Conceição. Esta imagem é símbolo do triunfo de Deus sobre o mal. Deus prometeu no paraíso que uma mulher humilharia uma serpente ao dar à luz seu filho. Maria é essa mulher ou a nova Eva, livre do pecado original desde antes de sua concepção, graças à obra redentora de seu filho Jesus, que nos liberta do mal e da morte eterna. Esse versículo bíblico é chamado pelos padres da Igreja de protoevangelho. A tradição da vulgata traduz essa passagem como “ela, a mulher  te  esmagará a cabeça.” A mãe do Messias tem um papel importante na história da salvação .

EXERCÍCIO

1)   Faça um resumo do que foi estudado na primeira semana.

2)   De acordo com o que foi estudado, o que é o pecado original?

3)   Você concorda com a afirmação de que o pecado original continua hoje? Comente.

4)   O que podemos dizer sobre:

      a) a árvore do conhecimento do bem e do mal;

      b) a serpente enganadora.

5) Serpente em hebraico.

MENSAGEM

O relato do pecado original é mítico, mas o pecado original acontece ainda hoje através da autossuficiência humana, quando o ser humano deseja ir além dos limites da lei natural. Por lei natural entendemos aquilo que a natureza impõe às pessoas. É o que se reconhece como estabelecido sem a interferência humana. Esta lei natural é algo muito questionado na pós-modernidade. Deseja-se separá-la, rompê-la. É a velha tentação do pecado original que fez o ser humano querer ser Deus, determinando até a própria natureza: os movimentos que insistem em arbritrar algo diferente do que a lei natural apresenta;

as iniciativas de interromper a vida (aborto, pílula abortiva, etc.), pois “cada um, cada uma é dono de seu corpo”;

a arrogância humana em querer se colocar como deus de si mesmo e determinar o que devem ser e como devem ser a natureza e seus semelhantes. Tudo isso é um sinal da ausência de Deus. Nos capítulos 1, 2 e 3 do Gênesis, presenciamos grandes temas da teologia: a criação e a queda – pecado. Nesses temas, Deus é o protagonista divino; Satanás, a grande serpente, é o antagonista; e o povo de Deus, os agonistas, ou seja, que vivem a ambiguidade humana em busca da graça de Deus. O termo “agonista” é retirado da literatura, em que o personagem principal de uma trama está envolvido em alguma disputa ou luta.

Em síntese, Gn 3,1-24, que traz a queda, ou seja, o pecado original, quis nos mostrar que esse pecado continua hoje. Rompê-lo é estar com o Cristo.

TEXTOS BÍBLICOS DO GÊNESIS,

Capítulo 3, na liturgia nos ciclos A, B e C e dos anos Impares, pares.

5ª Semana Comum do Ano Impar

6ª feira – Gn 3,1-8

Sábado – Gn 3,9-24

10º Domingo do Tempo Comum – B – Gn 3,9-15

Dia santo da Imaculada Conceição – 8/12 – Gn 3, 9-15. 20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PARA APROFUNDAMENTO   

 – Bíblia Sagrada

 – Ivo Storniolo e Euclides Martin Balancin  Como ler o livro do Gênesis –Editora   Paulus 1991

– Dianne Bergant e Robert S. Karris The collegeville Bible commentary – Minnesota, E.U.A 1989

– São Gerônimo – Antigo Testamento  Editora Paulus, 2011

– Alfons Deisseler, O anúncio do Antigo Testamento , Editora Paulus 1984

– Gianfranco Ravasi, A narrativa do Céu – As histórias, as ideias e os personagens do Antigo    Testamento –Editora Paulinas  1999

– John Bright , História de Israel – Editora Paulus ,2000

– Drolet, Gilles – Comprendre L’ ancien Testament, Canada,2006

– Grelet,Pierre – Homme qui es-tu? Les onze premieres chapitres  de la Génèse, Paris, CERF, 1973

– Anotações pessoais – Pe. Neto

– Elaboração – Pe. Raimundo Nonato de Oliveira Neto – Pároco da Paróquia de São Vicente de Paulo e Especialista em Teologia Bíblica

– Revisão – Pe. Emílio César Porto Cabral – Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição – Messejana e Mestre em Teologia Bíblica.

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