Igreja de São Bernardo – Roma
A Igreja deve inculturar o Evangelho na cidade e interessar-se pelo urbano (cf. SD 255-262). É preciso proporcionar uma espiritualidade que preencha o seu vazio, que permita a vivência de experiências de fé, esperança e caridade em sua vida e na vida da comunidade.
Dom Edson Oriolo – bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG
Atualmente, escutamos falar em cidades inteligentes, ou smart cities. Essas cidades oferecem benefícios, usam a tecnologia da informação para otimizar a infraestrutura e são focadas em melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos. Em Oslo, na Noruega, o monóxido de carbono jogado na natureza está sendo neutralizado pelo incentivo de carros elétricos. Na Holanda, mais precisamente, em Amsterdã, ao invés de carros elétricos, usam-se bicicletas para deslocamento de um lugar para outro. A capital dinamarquesa tem uma das políticas urbana mais avançadas do mundo, com destaque para a sustentabilidade. Essas estruturas proporcionam melhor qualidade de vida e bem-estar aos cidadãos.
De acordo com o Cities in Motion Index, da IESE Business School, na Espanha, são nove os setores que indicam o nível de inteligência de uma cidade: capital humano, coesão social, economia, meio ambiente, governança, planejamento urbano, alcance internacional, tecnologia, mobilidade e transporte.
No entanto, não é só o aspecto tecnológico e autossuficiência que proporcionam melhor qualidade de vida. As cidades inteligentes são frutos da ciência (saber), do fazer (tecnologia), do planejamento estratégico, de inovações e de investimentos bem planejados. Penso que smart cities têm como fim último a pessoa humana. O termo smart é usado como sinônimo de flexível, sagaz, auto ajustável, inteligente. É certamente um conceito que está conquistando a imaginação pública nos últimos anos. Isto posto, é possível realizar uma transposição, abraçar o conceito de ‘cidades inteligentes’ e dar-lhe um aspecto eclesial, para que tenhamos as paróquias inteligentes, capazes de dialogar com as necessidades mais urgentes e oferecerem respostas consistentes.
A Igreja deve inculturar o Evangelho na cidade e interessar-se pelo urbano (cf. SD 255-262). É preciso proporcionar uma espiritualidade que preencha o seu vazio, que permita a vivência de experiências de fé, esperança e caridade em sua vida e na vida da comunidade.
Nestes últimos anos, a instituição paróquia tem passado por grandes transformações no desempenho da missão e da administração. É uma instituição eclesiástica antiga e atual que devemos valorizar. O papa São Paulo VI, no discurso para o clero de Roma, de 24 de junho de 1963 afirmou: “a antiga e venerada estrutura da paróquia tem uma missão imprescindível e de grande atualidade: iniciar e congregar o povo na normal expressão da vida litúrgica; conservar e reavivar a fé das pessoas de hoje; oferecer-lhes a doutrina Salvadora de Cristo; realizar, pelo coração e pela prática da caridade, as obras boas e fraternas”.
Assim sendo, uma paróquia inteligente, ou smart parish é aquela que, usando dos recursos tecnológicos, cria um ambiente de convivência e de compromisso para possibilitar experiências de fé, celebrações na fé e a solidariedade com os que estão na margem da vida. Não se trata de abarcar o mundo, ou ficar fechado no próprio mundo, mas de atuar em tempo e espaço próprios para reforçar, nos discípulos, a fé e o compromisso; nos catecúmenos, cultivar o desejo e a convicção de adesão à fé; e nos prosélitos, cultivar a admiração pelo testemunho da comunidade paroquial. Uma paróquia inteligente deve, sem desprezar os recursos modernos, saber lidar, na comunidade, com os diversos níveis de adesão; saber dar a cada pessoa o amparo da fé, da esperança e da caridade de que necessita.
No entanto, necessitamos de paróquias inteligentes ou smart parishes, isto é, reconquistar o nosso espaço em tempo oportuno e inoportuno na sociedade contemporânea, que vem sofrendo pela neopentecostalização e capitalismo de vigilância. Assim sendo, acredito que três elementos serão imprescindíveis para que nossas comunidades eclesiais sejam inteligentes: missionariedade, mistagogia e ministerialidade.
Missionariedade: as paróquias necessitam sair de sua comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do evangelho (cf. EG 20). “Sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo” (DAp, 548). Devemos arriscar, investir, acreditar, preencher lacunas e ajudar as pessoas a progredir na experiência cristã de Deus. Uma paróquia inteligente significa “recuperar o frescor original do evangelho, despontar novas estradas, métodos criativos (cf. EG 11) para desenvolver “a atividade apostólica do Povo de Deus” (AA 1).
Mistagogia: as paróquias inteligentes são lugares para encarnar “os mistérios de Deus” manifestado pelos sacramentos. “A finalidade da evangelização é, precisamente, a de educar na fé de tal maneira que conduza cada cristão a viver – e não a receber de modo passivo e apático – os sacramentos como verdadeiros sacramentos da fé” (EN 47). A única experiência que sustenta e aumenta habitualmente a fé de muitos cristãos é a participação na vida paroquial para cumprir os preceitos e buscar o “mistério” nesta sociedade com tantos falsos valores.
Ministerialidade: a Igreja que emerge do Concilio Vaticano II é “toda ministerial”. Todos têm parte ativa na vida e na ação da Igreja (cf. AA 10a). A todos leigos e leigas incumbe a missão de trabalhar para que o plano de salvação atinja sempre mais todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares (cf. LG 33 d). A ministerialidade é marca significativa e imprescindível de uma Igreja e de agentes de pastoral em “saída”, como nos ensina o Papa Francisco, já que favorece a missão, o levar a Boa-nova aos mais diferentes contextos da sociedade, além de garantir a vivência e a participação no interior da comunidade paroquial.
Destarte, acredito que esses três elementos ajudam as paróquias contemporâneas a se transformar em paróquias inteligentes. Basta vivenciar a missionariedade, a mistagogia e a ministerialidade. Com efeito, a construção de paróquias inteligentes pressupõe a contemplação da inteligência de Jesus que perscrutava o coração do ser humano e, para este, oferecia a resposta necessária e adequada para qualquer situação.
Fonte: Vatican News