A palavra “páscoa”, do hebreu “peschad”, em grego “paskha” e do latim “pache” significa passagem. A Páscoa desde os tempos antigos sempre representou a passagem de um tempo de trevas para outro de luzes. Estamos em clima de Páscoa e a expressão sugere a “passagem” da misericórdia de Deus pelos caminhos tortuosos do homem. Foi assim quando Moisés, em nome do Altíssimo, conseguiu libertar o povo escravizado de Israel das mãos opressoras dos governantes do Egito. O conceito de Páscoa, que se cristalizou na vida religiosa do Povo de Deus, “passou a um estágio diferente e mais definitivo, no momento em que a inesgotável misericórdia de Deus voltou a passar e, desta vez, com maior intensidade e abrangência, pelas estradas da vida humana em terras da Palestina, para firmar o pacto da Nova Aliança, através de Jesus Cristo, homem-Deus, nascido de Maria”. Domingo da Páscoa é um dia de grande felicidade, porque da tristeza da Semana Santa emerge a alegria da Ressurreição do Senhor. Jesus saiu glorioso de seu sepulcro e agora vive para sempre na Glória do Pai. É a vitória brilhante, completa, que surge quando tudo parecia perdido. É a vida que brotou da morte. A Festa da Ressurreição do Senhor deve ser comemorada por nós com uma profunda renovação da Fé e uma reafirmação da Ressurreição histórica, real e evangélica. O Cristo, por sua morte, libertou o homem de todos os males, que são o resultado do pecado. Quando hoje olhamos nossa pátria ou nossa comunidade onde nos encontramos inseridos, constatamos a existência de muitas injustiças, que são sombras ao ofuscar o brilho do Sepulcro vitorioso. Parece-me que o Cristo não ressuscitou no patrão que não paga o salário justo; no rico que esbanja riqueza quando falta o essencial ao seu próximo; nas pessoas que exploram os pobres em todos os sentidos; nas pessoas que abusam sexualmente menores inocentes, nas pessoas que empregam a violência para alcançar seus fins; nas pessoas que vendem drogas que destroem vidas e transformam lares em verdadeiros infernos; nos políticos e autoridades corruptas; nos administradores da justiça que faltam imparcialidade; enfim, nas pessoas responsáveis que deviam cuidar das vidas a eles confiadas..
Não nos iludamos. A Páscoa do Senhor, tanto no Antigo como no Novo Testamento, não se limite a uma libertação dos males físicos. Seria empobrecer demasiado o conceito da Páscoa. Ele é muito mais amplo. Penetra em nossas consciências, exige compromissos morais, atitudes religiosas, exercício constante da solidariedade e obediência à lei do amor recíproco. A Páscoa é a passagem de Cristo por cada um de nós, por cada família, pela sociedade cearense, para nos libertar do egoísmo que reside dentro de nós e para oxigenar o ambiente externo, contra o desamor e as injustiças. Seria importante nesse momento ressaltar que o desenvolvimento social, com a libertação dos males físicos não deve ocupar o primeiro plano justamente pelo respeito devido à escala evangélica de valores. O Evangelista São Mateus nos orienta aqui quando disse: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt. 6, 33).
O catecismo da Igreja Católica afirma: “A ressurreição de Cristo é princípio e fonte da nossa ressurreição futura”. Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram. Assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida” (l Cor 15, 20-22). Na expectativa desta realização, o Cristo ressuscitado vive nos corações dos seus fiéis” (CIC, 665). Para os cristãos, há sempre a ressurreição como garantia de uma vitória final, a mesma de Cristo. Depois dos sofrimentos da Grande Semana, símbolo de nossas lutas e da vida humana veio à ressurreição. Morto numa cruz e sepultado, Cristo ressuscitou dos mortos verdadeiramente. Sua ressurreição até hoje e para sempre alimenta as esperanças de um mundo melhor e mais humano. A Páscoa é a consciência de que Jesus Cristo está em nós e nós estamos nele, e assim caminhamos, no desejo de construir um mundo melhor e na certeza de que estamos marchando para a casa do Pai.
Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1.