Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão

Em 2023, a Igreja celebrará mais uma Assembleia do Sínodo dos Bispos com o tema: Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão. Mas há algo de diferente dessa vez: não se trata de um evento único, mas de um processo e um dinamismo que, em si mesmos, expressam a sinodalidade da Igreja. É, portanto, um tema e um caminho constituído por três etapas: diocesana, continental e universal.

Por esse motivo, podemos perceber que se trata de uma temática de alta relevância para compreender a própria identidade e missão da Igreja. A sinodalidade, termo que significa “caminhar juntos”, embora não tenha sido um tema do Concílio Vaticano II, é um dos seus frutos preciosos e tem sido retomado, nos últimos tempos, no magistério do Papa Francisco.

O Papa Francisco, por ocasião dos 50 anos da instituição do Sínodo dos Bispos, em 2015, nos brindou com um discurso programático sobre a sinodalidade, seu sentido, sua abrangência, seus fundamentos e suas consequências.

Diz-nos Francisco que a sinodalidade é “dimensão constitutiva da Igreja” e por ela se tem o “quadro interpretativo mais apropriado para compreender o próprio ministério hierárquico”. Não se trata, pois, de mero procedimento técnico, mas faz parte do ser mesmo da Igreja como nos recorda a CTI: “a sinodalidade não designa um simples procedimento operativo, mas a forma peculiar na qual a Igreja vive e opera” (A sinodalidade na vida e na missão da Igreja, n.42). Por isso, o Papa Francisco, retomando São João Crisóstomo, recorda que a sinodalidade diz respeito à própria caminhada do povo de Deus: “como diz São João Crisóstomo, ‘Igreja e Sínodo são sinónimos’, […] pois a Igreja nada mais é do que este ‘caminhar juntos’ do Rebanho de Deus pelas sendas da história ao encontro de Cristo Senhor”.

É aqui que se pode perceber a abrangência do termo sinodalidade. Ela diz respeito a todos como também nos recorda Francisco: “Um (sic) Igreja sinodal é uma Igreja da escuta, ciente de que escutar ‘é mais do que ouvir’ […] É uma escuta recíproca, onde cada um tem algo a aprender. Povo fiel, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: cada um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo, o ‘Espírito da verdade’ (Jo 14,17), para conhecer aquilo que Ele ‘diz às Igrejas’ (Ap 2,7)”.

O fundamento teológico da sinodalidade está, segundo o Papa Francisco, em LG 12 que diz: “a totalidade dos fiéis que receberam a unção do Santo (cf. 1Jo 2,20.27), não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do Povo todo, quando este, desde os bispos até ao último dos leigos fiéis, manifesta consenso universal em matéria de fé e costumes” (LG 12). Partindo dessa noção, Francisco, na Evangelii Gaudium, recorda que “cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas ações” (EG 120). Por isso, “[…] dentro dela [da Igreja] ninguém pode ser ‘elevado’ acima dos outros. Pelo contrário, na Igreja, é necessário que alguém ‘se abaixe’ pondo-se ao serviço dos irmãos ao longo do caminho. […] Por isso, aqueles que exercem a autoridade chamam-se ‘ministros’, porque, segundo o significado original da palavra, são os menores no meio de todos”. E conclui Francisco: “Nunca nos esqueçamos disto! Para os discípulos de Jesus, ontem, hoje e sempre, a única autoridade é a autoridade do serviço, o único poder é o poder da cruz”.

Uma Igreja sinodal tem diversas consequências e aqui queria elencar apenas uma: ela é testemunho para a humanidade inteira: “Uma Igreja sinodal é como estandarte erguido entre as nações (cf. Is 11, 12) num mundo que, apesar de invocar participação, solidariedade e transparência na administração dos assuntos públicos, frequentemente entrega o destino de populações inteiras nas mãos gananciosas de grupos restritos de poder. Como Igreja que ‘caminha junta’ com os homens, compartilhando as dificuldades da história, cultivamos o sonho de que a redescoberta da dignidade inviolável dos povos e da função de serviço da autoridade poderá ajudar também a sociedade civil a edificar-se na justiça e na fraternidade, gerando um mundo mais belo e mais digno do homem para as gerações que hão-de (sic) vir depois de nós”.

Nossa Faculdade Católica, inserindo-se nesse processo sinodal que se iniciou no último dia 10 de outubro com Missa presidida pelo Papa Francisco, em Roma, e nas Dioceses no último dia 17 de outubro, quer oferecer elementos de experiência e reflexão teológica para uma efetiva práxis sinodal da Igreja. Nossos conferencistas colaborarão em muito com esse objetivo.

Dom José Antonio, Arcebispo de Fortaleza, na Conferência de abertura, nos falará sobre a importância da sinodalidade para a vida da Igreja. Em seguida, o Professor Padre Mário de França Miranda nos apresentará a sinodalidade como grande dom do Espírito para a Igreja. Continuando nosso percurso, o Professor Padre Francisco de Aquino Júnior abordará os fundamentos teológicos da sinodalidade como dimensão constitutiva da Igreja. A seguir, o Professor Padre Agenor Brighenti nos apresentará como o espírito sinodal se manifesta em estruturas eclesiais para um mais adequado serviço pastoral. O Professor César Kuzma tratará da relação entre sinodalidade e missão e, por fim, o Professor Padre Agenor Brighenti apresentará as perspectivas sinodais a partir da experiência da Igreja na América Latina.

Desejamos a todos e todas que esses dias sejam de profunda experiência e reflexão do Espírito e no Espírito para que criemos cada vez mais a consciência, como nos diz o Papa Francisco, de que “o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”.

Pe. Antônio Ronaldo Vieira Nogueira

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