Ao longo de todo o meu ministério sacerdotal, tenho trabalhado basicamente contribuindo com a formação inicial, tanto na Academia como na casa de formação, o Seminário. Evidente que esta causa tem me dado alguma experiência, amadurecendo a minha compreensão do referido ministério, colhendo daí muitas riquezas, muitas alegrias, também muitas decepções e frustrações, tudo isso sendo processado com muito equilíbrio.
Nesta contribuição, chamo a atenção para alguns aspectos pastorais da vida destes que são os primeiros e grandes responsáveis pela animação da vida eclesial, sem o equívoco de isto ser compreendido como clericalismo, mas como uma característica deste ministério. Os aspectos que evoco são lacunas e que acabam por comprometer e repercutir numa evangelização inculturada e tomo como fonte o Documento de Aparecida.
O primeiro aspecto diz respeito ao ministério do presbítero inserido na cultura atual (Cf. Doc. Aparecida n. 194). Neste sentido, o presbítero é chamado a conhecer a cultura na qual está inserido para semear nela a semente do Evangelho. Conhecendo a cultura, vai perceber quais são os sinais de morte que atravessam esta cultura, para que, com o empenho evangelizador, estes sinais possam ser transfigurados em sinais de vida; isto é nada mais nada menos do que ter como horizonte o Mistério Pascal. Desta forma, o Evangelho chega a ser uma motivação compreensível, cheia de esperança e de relevância para o homem e a mulher de hoje e, de forma especial, os jovens.
Um segundo aspecto se refere aos aspectos vitais e afetivos. (Cf. DAp195). Destaco aqui sobretudo o processo de maturidade que se nutre também pelo amadurecimento da vida espiritual que é fundada na caridade pastoral. Aparecem aqui as relações humanas como elemento fulcral, na medida em que na prática muitos conflitos pessoais e comunitários têm sua origem neste campo e, não poucas vezes, atrapalham e têm repercussão sobremaneira na vida da comunidade eclesial.
Um terceiro e último aspecto toca, talvez, numa questão quase que totalmente esquecida: o papel do sacerdote como formador de opinião (Cf. DAp n. 497d). Esta orientação está diretamente associada ao primeiro aspecto.
O presbítero deve ser um homem atualizado, estar ligado aos acontecimentos, fazer leitura própria, não se contentando com as versões que são veiculadas pela mídia, para que possa exercer este seu papel, quando for preciso, na contramão das versões, fazer o contraponto. É indiscutível que existem manipulações e distorções nas mensagens veiculadas, por interesses classistas, políticos e ideológicos que acabam “deformando”, mas enfim formando a opinião das pessoas, que às vezes não têm elementos sólidos para fazer bons juízos. Neste sentido, nosso papel é de fazer nossos fiéis, nossos agentes pensar. (Recomendo: “A Arte de formar-se”, Libânio, Loyola, 2001).
A sociedade favorece justamente o contrário. O mundo pós-moderno é mestre da ditadura do presente, light, não se discute que há uma predominância do superficial. Aqui reside uma questão básica e que nos remete para a seriedade de nosso ministério – como ser formador de opinião se nós mesmos podemos ter incorporado este estilo de vida light, de se contentar com o mínimo (só internet?), sem leitura, sem aprofundamento? Como vamos ajudar os outros?
De qualquer forma, o caminho pastoral para a saída deste impasse, já que é uma macroproblemática que deve ser enfrentada por outras instituições e mediações, é apostar numa metodologia participativa no exercício pastoral que leve em conta a vida do povo, a realidade, conteúdos que veiculem temas atuais e, de forma mais sistemática, no processo de formação.
Vale a pena lembrar esta pérola bíblica: “Por isso recordo-te que tens que reavivar o dom de Deus que está em ti desde que te impus as mãos” (2 Tm 1,6).
* É padre da Arquidiocese de Fortaleza e reitor do Seminário Arquidiocesano de Teologia – São José.
Artigo publicado no Jornal O Povo: https://www.opovo.com.br/app/opovo/espiritualidade/2013/03/16/noticiasjornalespiritualidade,3023609/presbitero-formador-de-opiniao.shtml