Em sua primeira viagem apostólica ao Brasil, o Papa João Paulo II, ficou 12 dias. Ele beijo o solo no dia 30 de junho e se despediu do povo Brasileiro no dia 11 de julho de 1980. Durante essa viagem visitou 13 capitais: Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória, Aparecida do Norte, Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Recife, Salvador, Belém, Teresina e Fortaleza e a cidade de Aparecida do Norte, percorrendo um total de 14 mil quilômetros.
Foram dias de muitas alegrias para todo o Povo Brasileiro, Católico ou não Católico.
Vindo de Belém/Pará, João Paulo II chegou no antigo aeroporto Pinto Martins às 9 horas e 30 minutos do dia 9 de julho, uma quarta-feira, permaneceu 30 horas na Capital Alencarina e deixou a cidade às 16 horas do dia seguinte, em direção a cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas. Durante sua estadia em Fortaleza ficou hospedado na residência Arquiepiscopal, no Seminário da Prainha.
Os Preparativos
Equipes do Governo e da Prefeitura se uniram à Arquidiocese de Fortaleza para preparar com antecedência a estrutura da visita do Santo Padre. As autoridades decretaram ponto facultativo no Estado e Município.
No Subsolo da Catedral foi montada a Secretaria do X Congresso Eucarístico Nacional (X CEN), onde era possível fazer as inscrições, obter as informações e realizar as inúmeras reuniões de organização, segurança, translado, liturgia, etc.
Para o Setor de Imprensa foi reservado o Colégio Justiniano de Serpa, onde 600 jornalistas credenciados pela a Imprensa do Vaticano, dentre eles, 64 profissionais da Empresa Brasileira de Notícias. Foram montadas 3 salas contendo 14 Telex e Telegrama, 15 cabines telefônicas DDD e DDI e orelhões para ligações locais, além de um laboratório fotográfico. No local ficava, ainda, a Sala do Assessor de Imprensa do Papa, a Sala para atendimento médico, a Sala da Imprensa Local e a Sala dos 23 intérpretes que auxiliavam na tradução para os jornalistas estrangeiros.
Dentre as muitas autoridades que recepcionaram a maior autoridade eclesial católica no aeroporto, junto com Dom Aloísio Lorscheider, Arcebispo de Fortaleza, alguns Cardeais e Bispos, estavam o Governador Virgílio Távora, o então Prefeito de Fortaleza, Lúcio Alcântara, acompanhados de suas respectivas esposas.
Quatro mil e quinhentos homens integraram o esquema de segurança na visita do Papa.
Em torno do Castelão foi preparada a Exposição dos Produtos dos Municípios Cearenses com a participação de pequenos e grandes empreendedores.
Foram confeccionadas 500 faixas de boas vindas ao Papa e distribuídas na cidade acompanhando sempre o trajeto que ele faria na capital.
Vigília pelo Papa e Semana Eucarística
Dom Aloísio Lorscheider convocou todos os católicos para dois momentos preparatórios à visita do Papa. A primeira foi que na noite do dia 29 de junho de 1980, dia de São Pedro e da saída do Papa de Roma em direção ao Brasil, os fiéis fizessem uma vigília; e a segunda foi que todos participassem da Semana Eucarística que aconteceu de 2 a 6 de julho em todas as paróquias e comunidades da Arquidiocese refletindo o tema do X CEN. O encerramento da Semana Eucarística aconteceu no Castelão com a presença de todas as paróquias.
Objetivo da viagem
Segundo o próprio Papa o grande objetivo de sua viagem era a participação no 10º Congresso Eucarístico Nacional que aconteceu há 40 anos, no dia 9 de julho de 1980 em Fortaleza. No dia anterior a sua partida na Cidade do Vaticano, o Pontífice, disse: “ O principal objetivo de minha viagem é a adoração ao Santíssimo Sacramento, Mistério da Fé e o Pão da Vida, em Fortaleza.”
Para onde vais? Esta pergunta, acompanhada do tema da Campanha da Fraternidade naquele ano que refletia a “Fraternidade e as migrações”, foi o tema do 10º Congresso Eucarístico Nacional. O maior evento religioso do Estado do Ceará ficou assim registrado na história do Castelão “Em 9 de julho de 1980, é aberto em Fortaleza o Congresso Eucarístico Nacional. O Papa João Paulo II participou das celebrações do Congresso e o Castelão recebeu o maior público de sua história: 120 mil pessoas.”
Além da inauguração do X CEN, o Pontífice teve o encontro com o Episcopado Brasileiro da manhã do 10, no Centro de Convenções de Fortaleza.
Construção dos dois altares
Homenagem
No Castelão foram construídos dois altares. Um interno e outro externo.
Um altar giratório, onde ficava a cadeira e a gigantesca mesa de 10 metros, ambas trabalhadas em talha, foi montado no centro do estádio Castelão. Em torno desse, uma plataforma fixa com 416 banquetas, no mesmo estilo, estava destinado aos Cardeais, Bispos e Padres. Completando o cenário estavam uma cruz de 18 metros com estrutura metálica e recoberta com madeira entalhada e ao redor do altar as carnaubeiras lembravam o verde típico da Região.
Foi diante desse cenário que Dom Aloísio deu as boas vindas ao Sucessor de Pedro e apresentou um panorama da realidade vivida pelo povo cearense. O Papa João Paulo II fez seu primeiro discurso e foi homenageado com danças folclóricas, jangadeiros, violeiros e a Banda de música do Piamarta.
Foram ofertas as seguintes lembranças feitas por artesãos cearenses, tais como, o chapéu de couro, um chapéu de palha, uma toalha de labirinto, um tatu de madeira e uma casa de João de barro. A homenagem ao Papa foi encerrada com o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, cantando a música ‘Obrigado, João Paulo II’ de autoria do Gotardo Thomaz de Lemos e revoada de centenas de pombos.
Após as homenagens o Pontífice tomou a palavra e disse: “ o Congresso Eucarístico é, ante de tudo, um grande e comunitário ato de Fé na presença e na ação de Jesus-Eucaristia, que permanece sacramentalmente conosco, para conosco percorrer os nossos caminhos, a fim de que possamos enfrentar, com sua força, os nossos problemas, canseiras e sofrimentos. Os nossos caminhos devem ser os seus caminhos, os nossos métodos, os seus métodos, os nossos pensamentos os seus pensamentos.”
A Santa Missa
O segundo altar foi construído na esplanada do Castelão para a Solene Celebração Eucarística na tarde daquela quarta-feira. Além da grande mesa e a cadeira entalhadas especialmente para a ocasião, o destaque era a cruz entre as duas velas da jangada nas cores do Vaticano, em amarelo e branco.
Essas cores também estavam nas bandeirinhas que o povo acenavam enquanto cantavam os hinos da Santa Missa. Um milhão de pessoas participaram da Santa Missa com o Santo Padre.
A toalha de labirinto para o altar foi doada pela Diocese de Limoeiro.
O Coral do Papa, como ficou conhecido, foi formado por 1000 pessoas, composto de universitários da Universidade Federal do Ceará( UFC), representantes das paróquias de Fortaleza e uma orquestra de 100 instrumentos.
Os mastros das velas tinham 13metros de altura por 21 de comprimento.
Abordando o tema “ Uma sociedade sem injustiçados” reforçou inúmeras vezes que “da Eucaristia brota a partilha fraterna”.
No final da celebração convidou a todos para rezar pelas três pessoas falecidas naquela madrugada devido a grande aglomeração no portão principal do estádio.
Encontro com o Episcopado Brasileiro
Cardeais e Bispos do Brasil tiveram seu encontro com o Papa João Paulo II na manhã do dia 10, no antigo Centro de Convenções de Fortaleza. Ele destacou a responsabilidade do Episcopado perante a Igreja inteira e preconizou a unidade da Igreja no mundo, mantendo-se coesa e em defesa às verdades anunciadas por Cristo.
Relíquias
A parte central da Mesa do Altar, os protetores das velas, a cadeira do Papa, algumas banquetas, a túnica, a casula e a estola usados pelo Papa estão na Catedral Metropolitana de Fortaleza. Uma parte desse altar estar no Santuário Nossa Senhora da Assunção, no Bairro Nova Assunção, e a outra parte na Capela Santa Terezinha, no Monte Castelo. A cruz estar na Paróquia São Francisco das Chagas, em Canindé. O outro altar e o ambão estão na Paróquia Senhora Sant’Ana, em Paramoti.
Confira as letras das músicas mais cantadas naquele dia.
Obrigado, João Paulo II
Letras Gotardo Thomaz de Lemos/ Música Luiz Gonzaga
De longe viestes
Pra estar no Nordeste
No meu Ceará.
Teu gesto tão nobre
No rico e no pobre
Não se apagará.
Da fé, peregrino
Ao Pastor Divino
Vieste adorar.
Trazendo ao meu povo
Fervor todo novo
Pra Deus mais amor.
João Paulo II
De Deus, grande graça
O povo te abraça
Em ti, ver Jesus.
Feliz te agradece
Por o visitares
E a Cristo adorares
Na terra da luz
Há séculos sofrendo
Rigor mais tremendo
De um clima feroz.
O povo suporta
A fé nos conforta
Deus luta por nós.
Se fica, padece
Se parte, entristece
Mas mostra o valor.
De quem na pobreza
Descobre a riqueza
Da fé no Senhor.
João Paulo II…
Na tua passagem
A minha homenagem
Filial no Senhor.
A terra sofrida
A mim tão querida
Beijaste com amor.
Também eu te beijo
Meu maior desejo
É beijar tua mão.
E fazer-te de veras
Promessas sinceras
De amar sempre o irmão.
João Paulo II…
A tua visita
É graça bendita
Pro povo cristão.
É felicidade
Privar da amizade
Do teu coração.
Pastor muito amado
De amor nosso brado
A Deus levarás.
E a Roma voltando
Saudades deixando
Entre nós ficará.
Hino do X Congresso Eucarístico Nacional
Letra: Prof. Gerardo Campos / Música: Mons. José Mourão Pinheiro
1 – Por longas estradas / sem fim, palmilhadas, /aonde tu vais? /
Procuras a vida, / trabalho e comida, / ser livre e ter paz.
Não vais tão sozinho com tua saudade. / Meu Pão e meu Vinho / são dons da unidade / que faz do Brasil / a tua cidade, / encontro e caminho / de vida e verdade.
2 – Tornei-me alimento pra ser teu sustento. / Aonde tu vais? /
Se a forte cobiça / te nega a justiça / no chão dos teus pais.
3 – Na minha viagem / faltou hospedagem. / Aonde tu vais? /
As tuas andanças / são minhas lembranças, / são outros natais.
4 – Os ventos vadios, / os mares bravios, / são teus dois rivais;
/ da Terra da Luz / o céu te conduz. / Aonde tu vais?
5 – Feliz violeiro, / sou teu companheiro. / Aonde tu vais?
/ Se a tua viola, / cantando, consola / os que sofrem mais.
6 – Valente vaqueiro, / herói caminheiro / das sendas rurais;
/ Eu sou teu amigo, / labuto contigo. Aonde tu vais?
7 – Pão vivo e celeste / eu marco o Nordeste / com grandes sinais.
/ O mundo é a estrada / da eterna pousada. / Aonde tu vais?
É bom saber
1º 1933 Bahia – Salvador
Tema: Vinde, adoremos o Santíssimo Sacramento
2º 1936 Minas Gerais – Belo Horizonte
Tema:Luz e Vida
3º 1939 Pernambuco – Recife
Tema: A Eucaristia e a vida cristã
4º 1942 São Paulo – São Paulo
Tema: Vinde a mim todos
5º 1948 Rio Grande do Sul – Porto Alegre
Tema: Ação Social
6º 1953 Pará – Belém
Tema: A Sagrada Eucaristia, sacramento da unidade e da comunidade
7º 1960 Paraná – Curitiba
Tema: Eucaristia, luz e vida do mundo
8º 1970 Distrito Federal – Brasília
Tema: A mesa do Senhor
9º 1975 Amazonas – Manaus
Tema: Repartir o Pão
10º 1980 Ceará – Fortaleza
Tema: Para onde vais?
11º 1985 São Paulo – Aparecida
Tema: Pão para quem tem fome
12º 1991 Rio Grande do Norte – Natal
Tema: Eucaristia e Evangelização
13º 1996 Espírito Santo – Vitória
Tema: Eucaristia,vida para a Igreja!
14º 2001 São Paulo – Campinas
Tema: Fonte da missão e Vida solidária
15º 2006 Santa Catarina – Florianópolis
Tema: Ele está no meio de nós!
16º 2010 Distrito Federal – Brasília
Tema: Eucaristia, pão da unidade dos discípulos missionários
17º 2016 Pará – Belém
Tema: Eucaristia e Partilha na Amazônia missionária.
18º 2020 Pernambuco – Recife e Olinda
Tema:Pão em todas as mesas (Devido a Pandemia do COVID-19 foi adiado para os dias 12 a 15 de novembro de 2021.)
Marta Andrade, Coordenadora do Setor de Comunicação da Arquidiocese de Fortaleza
Fortaleza, 9 de julho de 2020.
Uma resposta
Fui o segurança pessoal dele dentro do Castelão, no local onde ele trocava de paramentos. Pela manhã, e pela noite. Na parte da manhã, no nosso primeiro encontro, ele me presenteou com uma moeda comemorativa de sua visita, emitida pelo Vaticano. (Ela foi furtada por aderentes). À noite, após ele rezar a missa campal, retornou para a troca dos paramentos, lavou as mãos e foi embora para o Seminário. Esse sabonete (Citro, de Rastro) de presente à minha esposa (então namorada), e está conosco desde então. No dia seguinte, no Centro de Convenções, ele me deu mais dois presentes: um cordão de prata com um crucifixo, e uma foto autografada. Esses dois objetos, espero que tenham realizado os milagres desejados. Mas isso é outra história.
Também tenho uardado um prefácio original de um livro editado pela Arquidiocese, do qual fiz digitação e gráficos, com a assinatura de Aloisio “Cardeal” Lorscheider.