Estava meditando nesta manhã de Páscoa. A minha fé começa a partir de um túmulo vazio. De um corpo ausente. Na história da maldade humana, sempre falta um corpo para fechar o saldo das vítimas. Na contabilidade da indústria da morte sempre falta um corpo. Pela falta de mais um corpo, ela, a morte, não consegue festejar definitivamente sua vitória.
Páscoa é uma brecha que se abre para nós. É o nosso espaço de revolta que vai além de tantas vidas matadas. A morte não vencerá para sempre, ainda que, por enquanto, pareça contar vantagens. Será mesmo?
Tanta maldade me faz duvidar da Páscoa. O crime organizado que passa da conta, os genocídios, a corrupção, as antigas e novas endemias, as multidões sem alimento, sem água, sem casa, o desemprego assustador, a política falida, a interminável lama vermelha que tudo arrasa, a ditadura do mercado. Como não duvidar, meu Deus?
Mas vejo, também, infinitas energias do bem. Mulheres e homens transmitindo vida e cuidando dela com carinhoso e divino cuidado. Vejo jovens ousados, agentes de paz, animando os mais fracos. Coerentes cidadãos de verdade dizendo não a qualquer manipulação da justiça e à usurpação da democracia. Gente honesta, a começar das pequenas coisas do dia a dia. Rostos iluminados e de olhos puros sem outras inconfessáveis intenções. Mulheres e homens que nasceram na madrugada pascoal, e que têm dentro de si a semente da Páscoa, o DNA do Ressuscitado.
Estou convencido que Jesus não é simplesmente o Ressuscitado. Ele é a própria Ressurreição, é a ação, a linfa inesgotável de um eterno ressurgir que ajuda a recomeçar tudo e sempre de novo. E será sempre assim, até chegar a impedir, definitivamente, que mais uma morte de seja lá quem for, continue sendo a última palavra dos senhores da morte.
Pe. Marcos Passerini, MCCJ – Pastoral Carcerária
Blog de padre Marcos Passerini