Espaço especial para alimentar a esperança e fortalecer a caminhada será um dos pontos que o retiro das pastorais sociais pretende alcançar. Em sintonia com o 13º Intereclesial e a 5ª Semana Social Brasileira, os participantes querem construir metas de participação, organização para melhor organizar as lutas em prol da vida. Nesse sentido o assessor do retiro, o monge beneditino Marcelo Barros, fará sua contribuição refletindo a temática “Justiça e Profecia a Serviço da Vida”.
Em entrevista a Cáritas Regional, ele fala sobre a importância do tema, Rio+20, código florestal, cuidado com a vida, entre outras questões. “Todas as pessoas cidadãs têm de assumir a preocupação e o cuidado com esse caminho novo que a humanidade tem de tomar. Como pessoas humanas e também a partir da fé, como expressão de uma espiritualidade amorosa e de solidariedade entre nós e com a natureza criada por Deus”.
Marcelo Barros, 67 anos, é monge beneditino, teólogo e biblista. Foi um dos fundadores do CEBI (Centro de estudos bíblicos), junto com frei Carlos Mesters e desde os anos 70, é assessor da pastoral da terra e das comunidades eclesiais de base (CEB’s). Atualmente é coordenador da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT) que reúne homens e mulheres que fazem teologia na América Latina, na África, Ásia e ainda nos meios indígenas e negros da América do Norte. Trabalha especialmente em favor de uma teologia da libertação pluralista (que dialogue com outras religiões) e inserida no novo processo social e político da América Latina (o bolivarianismo).
O tema do retiro “Justiça e Profecia a Serviço da Vida” faz sintonia com o tema do 13º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Bases (Ceb’s). Que importância tem essa reflexão para os tempos de hoje?
O que mais nos chama a atenção na Bíblia é a revelação de um projeto divino para o mundo. Nos evangelhos, Jesus o chamou de “reino de Deus”. Esse projeto divino é mostrado pelos profetas como a realização da justiça libertadora para os pobres. Por isso, esse tema “justiça e profecia a serviço da vida” é à base da espiritualidade e a Igreja como um todo e cada cristão/ã tem sempre de voltar a esse assunto como sendo sua vocação básica: testemunhar e anunciar pela vida o reino de Deus, ou seja, o projeto divino para o mundo.
A vida foi ponto chave no processo de participação da Cúpula dos Povos, da qual você esteve presente recentemente. Que significado isso tem e que esperanças o evento trás para a vida dos povos e para a construção de um mundo justo e de paz?
A Cúpula dos povos, assim como os diversos fóruns sociais, foi um encontro da sociedade civil. Revelou que não podemos deixar esses grandes temas (ecologia, economia, etc) apenas nas mãos dos governos e dos técnicos. Todas as pessoas cidadãs têm de assumir a preocupação e o cuidado com esse caminho novo que a humanidade tem de tomar. Como pessoas humanas e também a partir da fé, como expressão de uma espiritualidade amorosa e de solidariedade entre nós e com a natureza criada por Deus.
A Rio+20 e o novo Código Florestal. O que você pensa á respeito?
Se a humanidade não muda esse caminho da sociedade (o capitalismo) que é essencialmente depredador e injusto, não há como fazer ecologia, nem respeitar a natureza. A Rio 92 + 20 mostrou isso. Os governos quiseram parecer ecológicos, mas salvando o sistema capitalista. Fracassaram. Ninguém acredita na tal economia verde que eles pregaram. E o novo Código anti-florestal é a prova de que quem manda no Brasil não é a presidente nem o governo. São os grandes proprietários rurais e as empresas multinacionais como a Monsanto que dizem ter comprado os deputados no Congresso do Paraguai e pago para derrubar o presidente da República daquele país que favorecia os lavradores. O novo código anti-florestal brasileiro é mau, mas temos ainda de lutar para reformá-lo. A luta não acabou.
Como teólogo, de que modo você acha que a teologia da libertação dialoga ou poderia melhorar o diálogo entre as diferentes culturas?
Toda verdadeira teologia reflete não somente sobre a pessoa ou a natureza de Deus, mas sua revelação e seu projeto de vida e justiça para todos. Por isso, de certo modo, toda teologia judaica e cristã teria de ser uma teologia da libertação. Hoje para realizar sua missão em um mundo muito diversificado e pluralista, a teologia tem de dialogar com as mais diversas expressões culturais e se inserir nas diferentes culturas. Hoje, a teologia da libertação se expressa nas diversas teologias negras, índias e feministas. E estamos também refletindo sobre a espiritualidade ecumênica inerente ao novo processo social e político emergente em vários países da América do Sul, o bolivarianismo. Meu livro mais recente se chama “Para onde vai Nuestra América” (Propostas de uma nova espiritualidade socialista para o século XXI), São Paulo, Ed. Nhanduti, 2011.
Por Jeane Freitas, assessora de Comunicação da Cáritas Regional Ceará.