No dia 3 de junho celebramos o mistério insondável de Deus, a Santíssima Trindade. É dogma da fé católica que proclama a união de três pessoas distintas, Pai, Filho e Espírito Santo, formando um só Deus. Durante os primeiros séculos de sua existência, a Igreja tinha enorme dificuldade para expressar em palavras o inexprimível- a natureza do Deus em que acreditamos. Dois grandes concílios ecumênicos estudaram este grande mistério. O Credo da Igreja Católica que tem o nome de Niceno-Constantinopolitano foi escrito durante o primeiro Concílio Ecumênico em Nicéia em 325, e terminado durante o segundo Concílio Ecumênico em Constantinopla em 381. Chegou à expressão belíssima do Credo Niceno-Constantinopolitano, infelizmente tão pouco usado nas celebrações de hoje, que apresenta o Pai como “criador de todas as coisas”, O Filho como “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado…”, e o Espírito Santo que “dá vida, e procede do Pai e do Filho”. Mas, mesmo essas expressões tão profundas não conseguem explicar a Trindade, pois se Deus fosse compreensível à mente humana, não seria Deus. A solenidade da Santíssima Trindade é um convite à admiração, à adoração, à ação de graças, e é também um convite à reflexão.
O Catecismo da Igreja Católica afirma “Jesus mesmo confirma que Deus é ‘o único Senhor’ e que é preciso amá-lo de todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito e com todas as forças” (CIC 202 e Mc 12, 29-30). A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve desde as origens na raiz da fé viva na Igreja, principalmente por meio do Batismo. Ela encontra sua expressão na regra da fé batismal, formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Na liturgia eucarística usamos a expressão: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2 Cor 13, 13).
Deus criou o ser humano, homem e mulher à sua imagem e semelhança. Se formos criados na imagem e semelhança de Deus, é de um Deus que é Trindade, que é comunidade perfeita na diversidade. Assim, só podemos ser pessoas realizadas na medida em que vivemos comunitariamente. Quem vive só para si é destinado à frustração e infelicidade, pois está negando a sua própria natureza. O egoísmo é a negação de quem somos, pois nos fecha sobre nós mesmos, enquanto fomos criados na imagem de um Deus que é o contrário do individualismo, pois é Trindade.
No mundo pós-moderno, onde o individualismo social, econômico e religioso é tido como critério fundamental da vida, a doutrina da Trindade nos desafia para que vivamos a nossa vocação comunitária, criando uma sociedade de partilha, solidariedade e justiça, pois fomos criados na imagem e semelhança deste Deus que é amor e comunhão. A festa de hoje não é de um mistério “matemático” – como pode ter três em um? – mas do mistério do amor de Deus, que nos criou para que vivêssemos comunitariamente na sua imagem e semelhança.
Padre Brendan Coleman Mc Donald, redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1