Na última reflexão neste itinerário pascal, Pe. Rafhael Silva Maciel exorta a viver “com muita piedade esses dias santos do Tríduo Pascal, que não são dias de descanso ou de férias, mas dias de profunda meditação e de íntima comunhão com Aquele que nos amou até o extremo (Jo 13,1)”.
Vatican News
Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor entramos na reta final do itinerário espiritual de Quaresma. Iniciamos com Cristo, no deserto, recolhidos em oração, sofrendo com ele as tentações e desventuras da vida, porém, com a força do Espírito Santo e pelo poder da sua Palavra, a cada dia vencendo a provação com as armas do jejum, da esmola, da caridade fraterna e com as penitências que nos impomos para vivermos de modo mais autêntico e verdadeiro esse tempo de graça.
No Domingo de Ramos, duas cores perfizeram a moldura da semana que estamos vivendo: o verde dos ramos e o vermelho da Paixão do Senhor. Nos ramos verdes e na saudação de bênção dos peregrinos – “Bendito o que vem, o rei, em nome do Senhor” (Lc 19,38) – com os quais o povo de Jerusalém acolheu Jesus que entrava na cidade, está contida toda a esperança dos corações, de que Deus tinha voltado a visitar o seu povo.
Ao final dessa Quaresma, vivida em meio às tribulações cotidianas da vida, que aumentam com as tensões de uma guerra, contemplando Jesus Cristo, o “bendito que vem em nome do Senhor”, os nossos corações devem ter sido preenchidos daquela Esperança que vem do Alto, do encontro misericordioso com o Ressuscitado, que as ideologias dos tempos modernos quiseram acabar, quando alguns declaravam que “Deus está morto” (Friedrich Nietzsche,A Gaia Ciência).
Prova o contrário a história da Igreja, repleta do testemunho de homens e mulheres que viveram o encontro maravilhoso com o Senhor, a ponto de suportar tudo com esperança viva em seu Redentor, como foi, por exemplo, o caso de Sta. Josefina Bakhita e tudo o que essa grande mulher viveu das agruras de ser considerada mercadoria, vendida várias vezes e, em meio a todo o sofrimento de “patrões” cruéis encontrou um dia um “bom patrão” que lhe apresentou aquele que se tornou o centro da sua vida e seu “Padron”: Jesus Cristo, o Ressuscitado dentre os mortos: Deus não está morto”!
Na esteira daqueles que viveram suas vidas como ramos verdes de oliveira, na esperança no Deus vivo, estão outros como S. Maximiliano Maria Kolbe e Sta. Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), que viveram toda a dramática dor da II Guerra Mundial, levados para centros de concentração, onde deram o verdadeiro testemunho de Cristo. Ou, testemunhos de quem sobreviveu àquele massacre, como São João Paulo II. O jejum, a esmola e a oração a que fomos convidados a tomar em mãos como armas espirituais para combater o mal, devem ter forjado os nossos corações com a virtude teologal da Esperança, “na qual fomos salvos” (Rm 8,24), pela Cruz do Senhor.
O vermelho que nos acompanhou na segunda parte da celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor estará no centro da celebração da Sexta-feira Santa. No altar da Cruz Jesus entregou seu corpo e derramou seu sangue, em meio à dores atrozes da sua boca saiu o perdão para um ladrão que se arrependeu (Lc 23,43) e para os algozes que “não sabem o que estão fazendo” (Lc 23,34). Na Sexta-feira Santa de 2012 o Papa emérito, Bento XVI recordava que “neste dia (…) a Igreja celebra, com profunda adesão espiritual, a memória da crucifixão do Filho de Deus e, na sua Cruz, vê a árvore da vida – árvore fecunda duma nova esperança” (Discurso no Coliseu). Em meio a mais uma guerra, que tira a vida de inocentes, como outras que acontecem, ainda infelizmente, em outras partes do mundo, a Cruz do Senhor, o vermelho de seu Sangue doado por nós, é esperança de que mal não tem e nunca terá a última palavra (Francisco, Discurso no Coliseu, 2014).
Ao encerrarmos essa Quaresma pela Paz, deixemo-nos envolver pela “esperança que não decepciona” (Rm 5,5) e pelo amor das chagas curadoras de Cristo (Is 53,5), como recordava Papa Francisco em um Twitter: “A Cruz de Jesus é a cátedra silenciosa de Deus. Contemplemos cada dia as suas chagas. Naqueles buracos reconheçamos o nosso vazio, as nossas faltas, as feridas do pecado. As suas chagas estão abertas para nós e, por aquelas chagas, fomos curados” (02/04/2021).
Vivamos com muita piedade esses dias santos do Tríduo Pascal, que não são dias de descanso ou de férias, mas dias de profunda meditação e de íntima comunhão com Aquele que nos amou até o extremo (Jo 13,1). Preparados que fomos pelos exercícios espirituais da Quaresma, na esperança “temos a certeza de que ‘a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido’, e obteremos, com o dom da perseverança, os bens prometidos (cf. Hb 10,36) para salvação nossa e do próximo (cf. 1Tm 4,16). Praticando o amor fraterno para com todos, estamos unidos a Cristo, que deu a sua vida por nós (cf. 2Cor 5,14-15), e saboreamos desde já a alegria do Reino dos Céus, quando Deus for ‘tudo em todos’ (1Cor 15,28)” (Francisco, Mensagem para a Quaresma 2022).
E que a luz do Cristo Ressuscitado ilumine as trevas da noite que envolvem os povos, para que cessem as guerras, morram as ideologias que matam e ferem a humanidade criada por Deus, e a cor que prevaleça seja o branco, do Príncipe da Paz.
Roma, 13 de abril de 2022
Pe. Rafhael Silva Maciel
Missionário da Misericórdia
Fonte: Vatican News