A imagem de Deus, radicalmente estampada na face da criatura humana, é sempre única. É a partir da afirmação do Livro Sagrado, segundo a qual Deus enxugará as lágrimas de todas as faces, que pensamos, reflexivos, nos desaparecidos do golpe de 64, ao percorrerem um lúgubre caminho, e não mais retornaram. Transformaram-se em sombras, as quais escureceram sempre mais, sem nunca mais brilhar, longe de toda e qualquer luminosidade.
Nada mais obscuro e tenebroso. Temos a advertência, nas palavras de um general, ao discordar da nefasta atividade executada: “Quem pratica tal ação transforma-se, diante do efeito da desmoralização infligida. Quem repete a tortura quatro ou mais vezes se banaliza, sente grande prazer físico e psíquico que é capaz de torturar até pessoas mais delicadas da própria família” (cf. Brasil: Nunca Mais). Não há ninguém na face da terra em sã consciência que consiga descrever o grito inumano do monstruoso, quão inominável procedimento.
Que a expressão “Tortura nunca mais” seja, de verdade, um refrão sempre e cada vez mais crescente, que, de alto e bom tom, se espalhe por todo o Brasil, numa empolgante afirmação de esperança, sem a qual o genuíno humanismo ceda. Vale a pena ultrapassar e superar toda e qualquer opinião de intolerância em questão, distanciando-nos de seu sombrio flagelo.
Como Igreja, na fidelidade ao seu fundador – de sempre mais zelar pelo dom da vida -, compartilhamos, solidários, os mesmos sentimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que “passou pela terra fazendo o bem”, foi perseguido, torturado e morreu crucificado. Mas, ao ressuscitar, deu-nos a missão de contribuir com seu reino, no compromisso do verdadeiro amor: justiça, liberdade e paz. Ele, que “reconciliou o mundo consigo”, no seu amor inefável, na total divergência dos torturadores, quer constantemente enaltecer o ser humano de dignidade, a ponto de ele se enamorar. Amém!
*Pároco de Santo Afonso, Jornalista, Blogueiro, Escritor e Colunista, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza