Um Deus enlouquecido de amor

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Padre Geovane Saraiva*

O cristianismo oferece-nos o paradoxo da transitoriedade da vida, à medida que temos a morte como pauta do dia a dia. Por outro lado, sonhamos com a realidade que ultrapassa e vai muito além do mundo, no qual vivemos e não podemos fugir, sendo um mistério de amor indizível da vida em Deus. Compreendido aos olhos da fé, é a realização da criatura humana, na necessidade de se fazer uma forte e bonita experiência de vida a partir do absoluto de Deus, em uma íntima relação com Jesus de Nazaré. Precisa que seja, de verdade, um marco decisivo na vida do cristão: o de colocar a centralidade da vida em Jesus, o Bom Pastor. É evidente o projeto de Deus a respeito da humanidade, dizendo que a vida é uma vocação, um chamado que implica em uma resposta generosa, a partir da escuta interior.

O nosso Deus é o Bom Pastor que nos conduz pelos caminhos mais seguros, aos prados ternos, a habitar em sua casa (Cf. Sl 22). Ele, com sua cruz redentora, assume o sofrimento das pessoas e do mundo inteiro. Contemplamos um Deus humilhado e desfigurado, sofrendo conosco e entrando em nossas dores e angústias, desejando-nos uma única coisa: desmanchar a montanha da autossuficiência, do preconceito, do egoísmo e do orgulho, surpreendendo-nos como Deus redentor e libertador, encarnado na História da humanidade, no seu imenso amor, que humanamente é inadmissível.

Somos convidados a meditar sobre a inexprimível grandeza de um Deus que entra em cheio nos nossos sofrimentos, dizendo-nos que participa de nossas misérias e calvários. Não é um Deus que está longe, à margem do mundo e da criatura humana. Ele nos convida, diante de sua suprema dor e morte de cruz, a uma generosa entrega e oferece tudo de que precisamos, dando-nos também força e luz, indispensáveis para prosseguirmos com segurança na construção do nosso futuro definitivo.

Deus quer o compromisso de fé dos cristãos, que se alimentam da esperança em um Deus enlouquecido de amor. Que saibamos responder, dia após dia, ao chamado de Deus, aquele que vai dar o verdadeiro sentido de viver e iluminar nossa caminhada, com a consciência de que o chamado é pessoal, onde Deus espera ouvir o nosso “sim”. Foi assim que Deus chamou Abraão, a ponto de submetê-lo à prova, no que ele respondeu: “Aqui estou” (cf. Gn 22, 1).

Concluo com as palavras do Papa Francisco (07/05/2017): “Cristo, Bom Pastor, tornou-se a porta para a salvação da humanidade, porque ofereceu a vida pelas suas ovelhas”, ele que lamentou o fato de muitos cristãos não valorizarem a experiência da “dimensão espiritual e afetiva” da sua fé e alertou para as “falsas sabedorias”.

*Pároco de Santo Afonso, Jornalista, Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal, integra a  Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – [email protected]

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