As Diretrizes da Ação Evangelizadora no Brasil (2011-2015) apontam cinco urgências pastorais que devem guiar a caminhada da Igreja no país durante o próximo quadriênio. Urgência implica algo que não pode esperar mais, que tem de ser feito imediatamente. Antes, falavam de linhas pastorais e de opções pastorais, mas hoje as Diretrizes da Ação Evangelizadora falam de urgências pastorais. Os bispos querem paróquias com espírito missionário, que percebam que é necessário ir ao encontro das pessoas e não aguardar simplesmente que elas venham em busca de algum serviço ou atendimento. Nossas paróquias não podem se reduzir a instâncias prestadoras de serviço, como se fossem qualquer outra instituição. As urgências devem ser assumidas por todos, no seu conjunto. Segue agora um resumo das cinco urgências.
1 – Igreja em estado permanente de missão.
Os bispos estão querendo que a Igreja no Brasil recupere e renove seu ardor missionário. Por isso, este primeiro ponto possui três características: a) urgência (em decorrência da oscilação de critérios, que não têm estabilidade e na ausência de valores permanentes); b) amplitude (destinada a atingir todas as pessoas); c) inclusão (reconhece que todas as situações, tempos e lugares são interlocutores). O discípulo missionário tem que “sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo” (Doc. de Aparecida No. 548). A consciência missionária “deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais. A Igreja precisa de uma “conversão pastoral”, através da qual se ultrapassam os limites de uma “pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”.
2 – Igreja, casa da iniciação à vida cristã.
A CNBB deseja trabalhar fortemente para iniciar os cristãos a um caminho de encontro com Jesus Cristo, mais profundo, mais íntimo, que renove e transforme as suas vidas. Uma chave de interpretação desta urgência é indicar que a iniciação à vida cristã não envolve apenas quem se prepara para o Batismo ou Primeira Comunhão. “Implica também aqueles que já foram batizados, mas foram preparados muito rapidamente: portanto, não se deu neles um processo de verdadeira conversão e adesão a Jesus Cristo e à Igreja. Essas pessoas, como não foram devidamente evangelizadas, começam a viver um pouco à margem da vida cristã. E há também aqueles que tem fé, mas com pouco fundamento, não sendo capaz de dar razão de sua fé diante dos desafios do mundo de hoje, quando é questionado e colocado em dificuldade. Por isso, um renovado e mais adequado processo de iniciação à vida cristã é fundamental em todas as paróquias. Também este processo deve ter um forte conteúdo bíblico.
3 – Igreja, lugar de animação bíblica da vida e da pastoral.
“Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça” (2Tm 3,16). O atual momento da ação evangelizadora convida o discípulo missionário a redescobrir o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus como lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo. A Igreja hoje tem consciência de que “particularmente as novas gerações têm necessidade de ser introduzidas na Palavra de Deus através do encontro e do testemunho autêntico do adulto, da influência positiva dos amigos e da grande campanha que é a comunidade eclesial”. Infelizmente podemos constatar que a Bíblia, algumas vezes, não é usada como luz para vida. Os nossos bispos desejam que a iniciação à vida cristã e a Palavra de Deus, que estão intimamente ligadas, sejam a grande preocupação das paróquias e comunidades do país. A Igreja, como casa da Palavra deve, antes de tudo, privilegiar a Liturgia, pois esta é o âmbito privilegiado onde Deus fala à comunidade. “Nela Deus fala e o povo escuta e responde. Cada ação litúrgica está, por sua natureza, impregnada da Escritura Sagrada”. Os bispos enfatizam a importância dos círculos bíblicos. Especial atenção merece a homilia atualizando a mensagem da bíblia
4 – Igreja, comunidade de comunidades.
“Sem vida em comunidade, não há como efetivamente viver a proposta cristã, isto é, o Reino de Deus. A comunidade acolhe, forma e transforma, envia em missão, restaura, celebra, adverte e sustenta”. As Diretrizes afirmam que “em nossos dias, além das comunidades territorialmente estabelecidas, nos deparamos com comunidade transterritoriais, ambientais e afetivas” com um rápido crescimento das comunidades virtuais, tão presentes na cultura juvenil atual. Estes fatos abrem novos horizontes de concretização comunitária. Hoje as atividades da Igreja Matriz não conseguem alcançar as pessoas nas periferias, nos bairros mais afastados e até em certos grupos habitacionais. Por isso, “é necessário criar uma rede de comunidades eclesiais, que é um modo de a Igreja sair da vida apenas da paróquia e ir ao encontro das pessoas, criando pequenas comunidades, centros de encontro, dando responsabilidade aos leigos, que podem exercer alguns ministérios, como a celebração da Palavra, levar a Eucaristia às pessoas que participam da celebração, aos doentes e idosos do bairro… animar a oração, a devoção e os cânticos”. Dessa forma, os fiéis sentem que a Igreja está próxima, foi ao seu encontro, está ali para assisti-los. Assim, é necessário que as comunidades formem verdadeiras redes, que vivam em comunhão umas com as outras e com a matriz.
5 – Igreja a serviço da vida plena para todos.
“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10. 10). A vida é dom de Deus! A Igreja no Brasil sabe que “nossos povos não querem andar pelas sombras da morte. Têm sede de vida e felicidade em Cristo” (Doc. Apar. N.350). Por isso, a Igreja proclama com vigor que “as condições de vida de muitos abandonados, excluídos e ignorados em sua miséria e dor, contradizem o projeto do Pai e desafiam os discípulos missionários a maior compromisso a favor da cultura da vida” (Doc. Apar. No. 358). O discípulo missionário não se cala diante da vida impedida de nascer seja por decisão individual, seja pela legislação e despenalização do aborto. A Igreja defende a vida como dom de Deus desde o começo até seu término natural. Nossa opção pelos pobres “vai além da doação caritativa, implica convívio, relacionamento fraterno, atenção, escuta, acompanhamento nas dificuldades, buscando, a partir dos próprios pobres, a mudança de sua situação”.
Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald, redentorista e assessor da CNBB Reg. NE1
Uma resposta
Realmente, por tratar-se de um assunto atualizadíssimo na vida em comunidade, tão presente no Documento de Aparecida, merece seja ele divulgado, com essa urgência com que foi tratado, para todos os nossos irmãos, com palavras mais diretas, objetivas, i.e, ao alcance de todos e de cada um.Cabe-nos, agora, traduzi-la e levá-la, com a proteção de Deus, aos irmãos, hoje, agora. Avante, missionários de Cristo Jesus. Amém.