A Quaresma é tempo de conversão e sacrifício – jejum, abstinência e esmola -, de revisão e mudança de vida; de escutar com mais atenção a palavra de Deus; tempo de viver o amor de Jesus Cristo traduzido em obras de caridade; é o tempo de se preparar para a celebração da vitória final da graça sobre o pecado e da vida sobre a morte.
Durante estes dias, a oração se torna mais intensa e a penitência mais acentuada, mas como pôr em prática a vivência da quaresma frente aos desafios e tentações do mundo moderno? O arcebispo emérito de Ferira de Santana (BA), dom Itamar Vian, ressalta que a Bíblia fala do jejum, da abstinência, da esmola e cada um dos cristãos deve trazer este ensinamento bíblico para a realidade de cada momento.
“O grande desafio hoje é vivermos realmente um jejum de paz. Com uma Campanha da Fraternidade tendo como tema ‘Fraternidade e Superação da Violência’, a Quaresma deveria ser vivida por cada cristão procurando viver a paz consigo, com os outros, com o meio ambiente e com Deus e, principalmente, tentar superar todas as dificuldades, conflitos familiares, sociais através da vivencia do diálogo. A vivência do diálogo é o grande caminho para conseguirmos a paz na família, na escola e na comunidade”, dom Itamar Vian.
Diante de tantas mazelas vividas no dia a dia da população como a violência, a miséria, a desigualdade social a única esperança para muitos é a graça divina. A questão da violência é um desafio global porque ela tem se manifestado em todos os setores, seja no trânsito, na vivência social, na família e, por isso, o cristão é convocado a participar e contribuir em todas as ações de paz, atos que devem começar sempre na pessoa humana.
“A paz começa em mim, a paz começa em você e esta paz que eu vivo e você vive depois é transferida para o meio escolar e para o meio social. Se nós quisermos viver bem a Quaresma além da penitência física da privação de alimentos ou bebidas, nós precisamos abrir o horizonte para dimensão social. São Tiago nos diz que a fé sem obras é morta”, ressalta dom Itamar.
Ainda segundo o bispo emérito, o jejum praticado, além de contribuir para a vivência em paz, tem uma dimensão social.
“Aquilo que nós deixamos de comer e beber para fazermos jejum não pertence mais a nós, pertence aos pobres. Por isso, o cristão somente realiza o jejum verdadeiro quando ele privando–se de alguma comida e alguma bebida destina esse dinheiro para uma obra social ou para uma família pobre”, destaca o bispo.
A vivência da Quaresma de forma profunda na oração é o caminho que levará os cristãos a participar mais frutuosamente do mistério da Páscoa, que é o mistério central da fé católica: Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dom Itamar Vian diz que o grande caminho é a palavra de Deus: “Jesus disse: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Não tenham medo, Eu estou todos os dias com vocês’”.
“Na bíblia nós encontramos os mandamentos que não são para prender a liberdade das pessoas, mas são projetos de santificação pessoal, familiar e comunitária. Por exemplo, na beira das estradas, às vezes, encontramos placas que dizem: ‘Respeite a sinalização e tenha uma boa viagem’. Se nós respeitarmos a sinalizações, isto é, os mandamentos, os decretos, as orientações, que encontramos na palavra de Deus, nós teremos uma boa viagem para o céu, mas, para acontecer isso, nós precisamos ler e meditar a Palavra de Deus e cada dia assumir um pensamento da Palavra como um alimento daquele dia, um alimento espiritual”, finaliza.